Já posso deixar de ser Mulher Alfa?
Já te oiço com mais atenção e tento, não sem alguma dificuldade, permitir-me alguma vulnerabilidade, deixando de me posicionar sempre na dianteira por achar que o mundo ainda o exige. Já vou percebendo que alguns dos meus medos não desapareceram, porque os camuflei e porque a capa, dura e intransponível que uso, me impede de mostrar quem sou quando sou apenas eu, nua da pele sintética e do que até eu tenho que seguir. Já estou um lugar mais à frente nesta nova fase da vida, porque somos feitas de muitas e porque me forço a aprender o que me motivará a melhorar, mas ainda falta tanto, que me arrepio perante a impossibilidade de me superar. Já sei que não posso ser tão Mulher Alfa, apenas Mulher.
. Anda cá pequenina, pousa a cabeça no meu ombro e arruma as armas, comigo podes ser tudo, não te vou cobrar nada, nem sequer esperar que te moldes à ideia que criei duma mulher segura. Fecha os olhos e deixa que te guie, confia, uma vez que seja e prometo que o sabor será doce e natural.
Como é que aprendo a deixar o controlo e a seguir outra pessoa que não eu mesma? De que forma é que posso confiar, sem que ambos os pés se mantenham sempre prontos para fugir? Quando é que serei apenas a mulher que sente e que não tem que fazer acontecer, permitindo que a magia aconteça e que os julgamentos, os meus, me concedam alguma trégua? Qual será o dia, de calendário, em que entregarei corpo e coração, sem limitações, acreditando que existirá quem me impeça de cair, de voltar atrás na evolução e sobretudo de sofrer por amor?
Felizes os que nada esperam e que aceitam o que lhes coube sem questionar. Matava por me saber aligeirar, parando-me e exigindo-me menos, muito menos e não sendo a mão pesada que tabela e penaliza potenciais deslizes. Felizes os que nada querem saber, achando que já sabem tudo, porque a pele nunca se arrepia perante a possibilidade de serem mal-sucedidos. Felizes os seguidores, porque para eles o mundo simplesmente gira e acontece.
Já te olho com menos suspeita, mas suspeito que o caminho ainda será longo, porque não é a ti que cabe passar-me confiança, sou eu que tenho que aprender a confiar.