1.4.22
O que é que receias?
Como abrir, de novo, o coração sem o espartilhar demasiado e sem o forçar a sentir menos ou a receber devagar? Que controlo acreditamos poder ter em relação aos que nos chegam, sem que descontrolemos o ténue equilíbrio que existe no mundo como o conhecemos? Qual a fórmula certa dos que parecem saber como ter e manter quem os reconhece, reconhecendo-os sem demasiadas avaliações, ou avaliando-os apenas pelo que são?
Não receio as noites vazias de gente, porque estou inteira em cada uma, mas gostava de saber como gostar mais dos outros, não lhes vedando o acesso já tão estreito e parando de recear o que me trarão, porque seguramente será o que me faz falta. Já quase que deixei de ter referências que me permitam ajuizar, avaliar e usufruir duma relação nova, mesmo que não as possa esquecer, posso claramente perder algum jeito (o que até que poderá ser bom, visto não ter sabido como manter relações). Dia sim e dia não, sinto vontade de ter mais um pouco de vontade, mas pareço continuar a gatinhar, demorando para me suster em ambas as pernas e simplesmente andar. Medos? Uns quantos, e mesmo que os tente afastar, sei que terão que andar por aqui para que ande de forma mais confiante e segura.
Não sei como mudar os chips, mudando-me no percurso e usufruindo um pouco mais de mim e do que ao dar acabarei por receber. Não sei fazer mais nem diferente, não no que concerne a relações e não para me poder encaixar, redefinindo as posições. Não sei do que sei afinal, sinto que é muito, mas que está direccionado para outras partes de mim. Não sei o que me direi, um dia, quando já nada mais estiver nas minhas mãos, mas acredito que me munirei de boas razões, porque as acumularei, após umas quantas tentativas e erros. Não sei se serei apenas eu, lá à frente, mas a acontecer, terei que me bastar.
30.3.22
Vais sempre ter um outro amor!
Vais sempre ter um outro amor, se estiveres pronta e se aceitares quem muito provavelmente já esperava por ti há algum tempo.
Escuta com atenção a voz que te sussurra dentro, mas afasta o que te disser que soe a falta de coragem, porque sem mexeres um dos pés, nunca terás forma de chegar a algum lugar. Se fosse fácil, estar disponível, vulnerável e aberto a que nos entrem alma dentro, perscrutando o que temos de mais escondido, mas que a ser revelado até revelará o melhor de nós, ninguém fugiria da vida, das relações e do amor. Se fosse tão difícil quanto fazemos parecer, querendo sem saber muito bem porquê, provavelmente que por esta altura pouco do mundo teria restado.
Vais sempre precisar de recomeçar depois de finais impostos, se não desistires de andar por aqui, sendo seguramente mais completa e fortalecida, porque para cada etapa uma lição e porque a junção de muitas que te tornarão ainda mais sábia.
Liberta-te das pessoas que te mostraram o pior da vida e até de ti, arrancando as páginas que escreveste e reescreveste achando que a tua visão seria a mais certa e que acertadamente julgavas quem eram e os seus motivos. Nunca saberás tudo e por vezes nem o essencial te será revelado, por isso segue em frente e aceita as tatuagens que te fizeram, consciente de que é a ti que te cabe torná-las permanentes ou temporárias.
Vais sempre ser a pessoa que importa na vida de alguém, por isso prepara-te para quando acontecer, sentindo-te à altura do desafio.
Spring sunny days!
29.3.22
Tenho saudades de mim!
Agora são tantos, com tantas opiniões, mas tão poucas que importam, que passei a importar-me cada vez menos!
Tenho saudades do tempo em que vivia para aceitar que me aceitassem, mas sem esforços desmedidos, porque era tão somente eu e no modelo que parecia até encaixar-se. No alto da minha ideia de perfeição, sabia-me imperfeita, mas acreditava que a atingiria um dia. Não vivia para questionar, permitia-me viver, sentindo o calor dos sorrisos que me enfeitavam os lábios de forma quase diária. Tenho saudades de mim, da que não precisava de planear demasiado para concretizar, porque seguia, de forma confiante, por cada uma das estradas que mal conhecia, mas das quais regressava vitoriosa. Os olhares eram benévolos e as palavras mais suaves, mesmo que cheias de todas as questões a que poucos sabiam responder. Tenho saudades de ler os livros que me faziam apaixonar por vidas possíveis, sentindo-lhes o sabor e acreditando que se alguém escrevera sobre o que também queria, então é porque o tivera. As páginas eram devoradas como se o tempo me pudesse eventualmente fugir e nunca suspeitando que o faria eventualmente. Tenho saudades dos elogios que aceitava sem procurar por vírgulas mal colocadas ou por sinalética controversa, porque conseguia ser mais consensual. Tinha a ingenuidade dos jovens e a crença nos que diziam saber do que ainda procurava. Tenho saudades de tudo o que me enfeitava os dias, pedaços pequenos de coisas quase indeléveis, mas que bastavam. Nada era vivido em desespero, o que não tivesse ainda chegado, acabaria a ser meu e nunca me arriscava a duvidar. Tenho saudades de todos quantos me amaram, mas cujos amores desperdicei por ser tão cheia de mim e por achar que muitos outros viriam. Escrevia e recebia as cartas que me mantinham a sonhar e sonhava sem pressas, dando a cada pedaço de vida o tempo e o momento que precisavam para me fazerem crescer. Tenho saudades dos 5 anos, por ter aprendido a ler e por me terem ensinado o poder do que me acompanharia vida fora, as palavras. Brincava com as sílabas sem lhes adicionar pesos desnecessários, até porque não os tinha e porque a minha leveza, pelo tamanho e pouca vida, me permitiam desenhar um mundo à minha medida. Tenho saudades de não sentir saudades de nada, simplesmente porque a única coisa que importava era o que existia, o presente, e o futuro parecia pertencer-me na íntegra. Que saudades de mim, da miúda que a mulher escolheu deixar ir, mas que terá que recuperar, de contrário viverá eternamente de saudades.
28.3.22
Preciso de me curar de ti!
Preciso de me curar de ti para poder seguir, prosseguindo com o plano inicial de apenas ser feliz. Preciso de deixar para trás o que me trouxe até aqui, ao lugar no qual me refugio das emoções que me poderiam reabrir as feridas, mesmo que deseje, intensamente, que alguém chegue e me faça desejar um recomeço. Preciso de voltar a sentir abraços sem condições, recebendo-os de forma tão natural, que tê-los será ter-me de volta. Preciso, urgentemente, de voltar a amar, porque receio esquecer-me do quanto me faz bem e deixa ainda mais bonita. Preciso de encontrar a minha pessoa, a única que saberá o que fazer comigo e de mim, mas ainda nesta vida se não for pedir muito.
As pessoas fortes e aparentemente resolvidas, juram a pés juntos não padecer de qualquer trauma, mas quando a vida lhes mostra o oposto nas mais pequenas coisas, percebem que não perceberam o suficiente e que por isso se mantêm sozinhas e descrentes, não no amor do mundo, mas no que lhes estaria reservado. As almas que se sentem incapazes de juntar corpo e coração num único ser, sofrem bem mais do que as restantes, são mais distantes do que as trouxe até "aqui" e receiam, mais do que a tudo o resto, ter que regressar, de forma contínua e persistente, aos mesmos lugares emocionais. Carregam uma missão aparentemente impossível e será provavelmente por isso que afastam os que até poderiam ficar, mas que esbarram em muros que sobem e sobem até que pouco do que importa seja visível. Falham ver quem os olha e apenas se voltam para o que já não tem mais volta, mas que ainda assim as condiciona e afasta do que já deveria estar instalado. As pessoas fortes também sangram, de forma invisível para os outros, mas com um sangue que tem uma mesma cor.
Preciso desesperadamente de te deixar no passado ao qual vetaste o nosso amor, porque desejo, TANTO, ter alguém que me ame, que pensar em ti seja apenas para me recordar do que me proporcionaste ao partir. Preciso de aceitar que o que me estava reservado passava pelo adeus determinado que me ofereceste, usando a mesma voz que um dia me permitiu acreditar. Preciso de atravessar a margem onde me deixaste, chegando tranquilamente à que me espera. Preciso de deixar de precisar de ti.