12.6.22

Pimentos!

junho 12, 2022 0 Comments



Para o Alexandre a Ana estava a ser uma agradável revelação, conseguiam conversar sobre tudo e usufruir de enormes silêncios, enquanto reviam embevecidos os filmes que lhes diziam tanto. As rotinas de ambos pareciam apenas fazer sentido se passassem por cada um e já quase viviam em casa um do outro, com um enorme à vontade, como se sempre tivesse sido assim. Por incrível que pudesse parecer a todos quantos os rodeavam, ainda não tinham tido qualquer intimidade física. Com eles tudo caminhava de uma forma natural, a encaixar cada pedaço da vida de ambos e a encontrarem motivação em pequenos-nadas.


- Anda miúda, fiz uma salada de carne e pus os pimentos assados, bem marinados como gostas, em azeite e alho, cortados às tirinhas.
- Ui espera que já estou a salivar.

Mas sabem que mais? A salada ficou para depois, porque quando a Ana o olhou com o avental e aquele sorriso que lhe tirava o chão, não resistiu mais. Parecia ter sido tomada por uma loucura momentânea e rasgou-lhe, literalmente, a t-shirt. Começou a tentar abrir-lhe os botões das calças, mas eram muitos...

- Credo, que merda.
- Calma miúda, eu tiro. O que foi que te deu?
- Foi o cheiro dos pimentos - sorriu com ar de mulher determinada.
- Onde foste buscar esse fogo todo?
- A ti. Cala-te agora e sente como a minha boca se encaixa na tua.

Fizeram amor, sexo, tudo a que tinham direito, lambuzando-se no desejo que parecia ter estado engarrafado. Os cabelos longos que lhe roçavam o peito e os lábios que lhe percorriam o corpo, provocavam-lhe descargas elétricas indescritíveis. Estivera sempre ao comando e de vez em quando olhava-o de forma tão profunda e apaixonada que quase o enlouquecia.

Onde estivera esta mulher e porque o conseguia enlouquecer assim? Porque conseguiam encaixar-se desta forma e porque a sentia tão solta e confiante? Afinal o que mudara?

Quando finalmente se saciaram, aninharam-se um no outro e ela pôde finalmente dizer-lhe que o amara desde o primeiro dia em que os olhos, os tais que nunca mentem, entraram tanto em si, como estivera hoje, que percebera ter encontrado quem esperara.

- Isto foi tudo obra dos meus pimentos? Vou tratar de os patentear e vender, vamos ficar ricos.
- Embora ao segundo round?
- Queres-me matar, miúda?

Quando se desiste!

junho 12, 2022 0 Comments



Hoje escolhe-se o que é aparentemente mais fácil e vira-se as costas, por norma aos que nos poderiam acrescentar muito mais do que temos, mas que viriam balançar todas as estruturas e fazer repensar escolhas. Ninguém quer ter trabalho, não com o amor. O instantâneo está na moda e o descartável também. Hoje queremos muito, mas amanhã já nos enjoa. O tempo é o mesmo, o relógio não foi ampliado, nem encolheu, o que mudou foi a forma como o passámos a gerir, na minha opinião mal, não permitindo que nos sobre o essencial.


Por norma para mim desistir não é opção, porque não começo o que não possa terminar, mas por vezes chega quem me interrompe o percurso e me diz que NÃO, que não quer e que não sabe o que fazer com a sua vidinha já pré-estabelecida, roubando-lhe mais do mesmo, mas que lhe serve. Nunca desisto de mim, nem daquilo em que acredito, das pessoas de quem gosto, ou dos meus sonhos, porque chegar ao que sou hoje deu trabalho, custou a entender, foi um percurso para a frente e voltar atrás, segurando-me, não me faz qualquer sentido. Quando desistimos do que tanto nos custou a conquistar, estamos inevitavelmente, a desistir de nós e não pode haver nada mais solitário, nem que nos deixe com mais dúvidas. Mas podemos desistir do que nos faz mal, do que soa a falso, do que não acrescenta e dos que, de uma forma ou de outra, nos fizeram olhá-los de forma diferente. 

Infelizmente não somos todos iguais no que à convicção diz respeito e por vezes temos bem perto quem nunca se tenha estruturado como pessoa, quem apenas deambule pela vida, fazendo as mesmas coisas, rindo das mesmas piadas, ouvindo as mesmas músicas e desejando, ardentemente, que tudo se mantenha no mesmo lugar, até porque o sol nasce sempre no mesmo quadrante.



Let´s wake up!

junho 12, 2022 0 Comments

 

Sue Amado´s photo

                                                 21 graus às 6:20, caramba, esto promete hoje!

11.6.22

Sabes quem sou quando me olhas?

junho 11, 2022 0 Comments

Sabem quanto tempo leva a construir uma identidade? Têm ideia de todos os passos elementares, para que se entenda, sem qualquer fundo de reserva, o que se espera da vida, dos sonhos que crescem à velocidade do pensamento e das pessoas que poderão ficar no nosso percurso? Muito, demasiado para alguns.

Não é do nada que acordamos a sentir que a nossa pele nos pertence e tem a tonalidade, o toque e a textura que se encaixa. Os dias que nos levaram à decisão não se apagam, passam a servir de referência e de memória futura e impedem-nos de os resgatar, porque é no passado que deverão permanecer. O tempo passa a correr de forma mais determinada, com sentido, e sentir, caramba, sentir nunca mais é igual, porque se sente TUDO, MUITO e sempre de mente bem próxima do coração.

Não são os outros que nos testam. Não são os lugares que nos definem. Não é o acordar que determina o adormecer e não é adormecendo sem planos que se acorda vazio, ou incapaz de planear. Não é o céu cinzento que nos escurece a alma, nem mesmo o sol resplandecente que torna tudo mais claro, somos nós, por dentro e quando já nos conhecemos o suficiente para sabermos o que fazer, quando, como e com quem, ou simplesmente quando não fazer nada, permitindo que a estrada os redirecione a viagem

Sabem quantas pessoas conseguem acompanhar a nossa passada quando nos revelamos, dizendo sempre o que queremos e querendo apenas o que podemos ter? Poucas, mas seguramente que as únicas que nos servem. Será que alguma vez se questionam quanto ao que pensam algumas pessoas quando as olham e percebem o caminhar seguro e determinado? 

Não é o NÃO oferecido de forma repetida que nos impede de ouvir um SIM da boca certa e quando menos esperamos, ele chega, tem o tom que os ouvidos recebem sem questionar, vindo da única pessoa possível e validando tudo o que escolhemos ser, sabendo que o seríamos sem que as dúvidas se pudessem voltar a instalar. Não são as desistências alheias que nos fazem desistir, somos nós que escolhemos continuar em frente, arredando os que não nos conseguem acompanhar.

HOT day!

junho 11, 2022 0 Comments

 

Sue Amado´s photo

                                                              Has summer arrived already?

Dependências emocionais!

junho 11, 2022 0 Comments



Cada vez se ouve  falar mais de ligações bizarrassentimentos deformados e dependências que se tornam tão cáusticas quanto o são as drogas duras. Mas o que "nos" leva a depender de outra pessoa de forma a perdermos a nossa própria identidade? O que "nos" falta assim tanto, para apenas conseguirmos funcionar se o outro estiver por perto? Provavelmente a crise de valores, os medos e o conforto que deixamos instalar. Não querer voltar a ser exposto, mostrando o que somos realmente, impede-nos de sermos verdadeiramente felizes e mais grave ainda, impele-nos a espalhar a nossa infelicidade, minando tudo ao redor.

Ninguém deverá ser mais importante do que nós mesmos e temos que acreditar que a pessoa que nos chega, a mesma que escolhemos para fazer um percurso de vida, também tem vontades, desejos e sonhos que deveremos ser capazes de alimentar. Dar, recebendo e ser, permitindo que o outro também o seja, será a forma certa, não esperando em nenhum momento que sintam por nós e que a responsabilidade caia toda sempre sobre o mesmo. Não temos corpos iguais. As nossas almas viveram muitas outras vidas e mesmo que nos tenhamos cruzado antes, NADA do que vivemos faz de nós a metade perfeita do outro. Ao invés de nos esforçarmos, em vão, para nos encaixarmos, deveremos usufruir das diferenças que certamente aumentarão a diversidade. 

Será que conseguem imaginar dois seres totalmente felizes consigo próprios e juntos? Que relação bombástica!

"Quero mais para mim e desejo que encontres tudo para ti. Quero poder partilhar o que fores encontrando, ajudando-te a cumprir cada desejo. Quero que encontres no meu melhor o que te manterá mais completo e que sejamos ambos suficientemente egoístas para termos TANTO em nós, que deixe de nos caber e jorre até ao outro. Não quero depender de ti, quero apenas depender da minha vontade de te ter comigo"!

10.6.22

A carta que não abri!

junho 10, 2022 0 Comments


 Olá a ti,

Estou a responder à carta que não li e nem sequer me atrevo a abrir. Quero acreditar que ainda sei o que me perguntas, talvez porque o tenha feito demasiadas vezes sem qualquer resposta. Preciso de antecipar todas as palavras, escritas em cada linha, seguindo os pensamentos que nos cabiam a ambos. Desejo, mesmo, que me estejas a pedir o que me negaste e a tentar resgatar o que até já era teu. Mas ainda assim sei que não a consigo ler.
Já olhei para o remetente mil vezes. Já engelhei o papel, o mesmo que acabou molhado pelas lágrimas que caíram descontroladas, mas ainda não a abri. Já tentei sentir o teu cheiro, imaginando as vezes que te movimentaste na cadeira, desconfortável e inquieto e já resisti à tentação de "te" rasgar em mil pedaços, ainda assim e para memória futura, quero que saibas que sempre soube de cada razão e que te perdoei. Quero e preciso que entendas que sempre estive muito à frente no nosso caminho e que continuo a recusar atrasar-me. Quero que pares de te desgastar, porque deixou de importar, mesmo que me importe sempre contigo. Quero que finalmente me deixes ir, porque deixámos de ter forma de voltar.

Estou a recusar-me ler a carta que agora te respondo, muito provavelmente com as palavras que não quererias ler, mas apenas para te dizer adeus e a tudo o que poderias ter dito para atenuar a dor imensa que deixaste. Não vou ceder, porque se abrir esta porta, entrarás de rompante para me lembrar de tudo o que me esforço por esquecer.

De mim a quem perdeste,
...