Feel Me

Nem sempre o amor resolve. Nem sempre basta e muito raramente muda cenários Dantescos, ao invés amplia-os, recordando-nos do quão pequenos somos. Nem sempre os bons esbarram nos melhores, por vezes são testados, uma e outra vez, sem que lhes sejam dadas tréguas ou tempo para respirar, reavaliar e continuar. Nem sempre adianta que se queira muito, porque o pouco arranja forma de se instalar e de demover qualquer esforço. Nem sempre saberemos o que dizer e na maioria das vezes nada poderá ou deverá ser dito. 

Segredos todos temos, por isso mesmo nunca poderemos ser totalmente de vidro, permitindo que nos vejam de todos os ângulos e que nos descortinem a alma ou os desejos mais íntimos. Os segredos são a nossa proteção, o nosso muro, a separação entre o nós e os outros. Alguns dos nossos, após revelados, parecerão pequenos e insignificantes, comparados com uns quantos que nos esconderam, de amores, de enganos, de crimes passionais, de roubos de identidade e de tudo o que nos permita a imaginação, mas que atormentaram quem os possuía, impedindo-os de se partilharem.

Que somos duas eu e eu até já o sabíamos. Uma tem por norma mais poder do que a outra e por isso deixa cair algumas das suas ideias parvas, forçando-a a repensar e a ajustar escolhas. Entretanto e porque devemos avaliar e reavaliar comportamentos, a gerência mudou e passaram a existir novas normas. Se uma delas geriu mal a vida de ambas, há que saber dar a mão à palmatória e repensar estratégias.

No meu agora existe muito pouco que já não seja capaz de fazer. Estou completamente pronta para permitir que me permitam sentir, sem medos e sem pensamentos que me atropelem, o corpo que até me poderão ter dado, mas que ajudo muito convictamente a manter. O corpo com o qual caminho mais segura, que me representa e mostra o que nem sempre me atrevo. O corpo que já carregou os seres mais importantes da minha vida e com o qual experiencio as sensações que mais nenhum órgão consegue. O corpo que olhas e que te provoca o desejo que apenas eu sei saciar.

As relações que não carregam reciprocidade apenas sobrevivem à custa do sacrifício de um dos elementos!

Quando não sabemos como incluir, de forma inteira, quem se entregou inteiramente a nós, jamais passaremos do "passar", por norma um bom tempo e alguns momentos que saberão a muito pouco depois de espremidos. As emoções que nos arrancam do peito dores lancinantes, quando o que desejamos é que ele se mantenha tranquilo e seguro, apenas originarão sentimentos bons se nos tocarem de forma verdadeira, todos os outros serão apenas mais do muito que sabemos existir, mas esperamos não ter que viver.

As relações têm nomes, objetivos e finalidades, por isso mesmo existirá sempre quem esteja na mesma passada e com igual despertar ou adormecimento, teremos apenas que encontrar a mesma medida do sapato, sem forçar e sem fingir que nos serve o que NUNCA conseguiremos "calçar". Não usemos quem se prontificou a estar presente, presenteando-nos com amor. Não magoemos quem apenas deseja abraços sentidos e beijos intensos na suavidade. Não desconsideremos quem nos soube considerar e reconhecer, porque a mensagem que passarmos será ouvida e retribuída por alguém, um dia.

As relações passaram a ser experiências em laboratórios caseiros, não carecendo de qualquer validação cientifica, talvez por isso continuemos sem respostas que sirvam às perguntas que muitos deixaram de fazer, não vá o mundo acertar os ponteiros e desatar a cobrar-lhes a falta de inteligência.