E quando te esquecer?
Sue Amado
setembro 01, 2015
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Olá meu amor,
E se depois de tantos anos juntos, que até vieram tarde demais porque gostaríamos de nos ter pertencido antes, te esquecer e a tua face já não me recordar de tudo o que conseguimos construir juntos? Que medo sinto de te perder, mesmo estando ainda perto. Medo de não te saber mais tocar e sequer ter como juntar a minha boca à tua, como sempre fiz, sem nunca me fartar, porque beijar-te era deixar-me ir inteira, sugando-te o que parecia apenas pertencer-te. Que medo gelado de cair num abismo, de me perder para um lugar do qual jamais voltarei, sendo o nada, ficando despida de mim e já nem usando as palavras com que te envolvia sempre. Que medo de deixar de ter o corpo que te enlouquecia, de perder o calor que me subia até quase me sentir rebentar, porque te antecipava, bem dentro de mim, dando-me o prazer que me transformava numa mulher diferente, mais arrojada e totalmente tua.
Como vais tu lidar com os meus silêncios? O que restará de mim quando já não souber articular nenhuma palavra e quando até os dias mais importantes da nossa vida se transformarem em pó? Gostava de te implorar que me segurasses, que me apertasses forte e que me protegesses de mim, da minha incapacidade de recuperar um dia que fosse, porque sei que a minha viagem começou e que rapidamente estaremos em lados tão opostos, que já não haverá mais volta.
Deixa-me dizer-te, agora que ainda me sinto e que sou inteira, nestes minutos que bem poderão ser os últimos, que te amei como nunca achei possível e que mesmo tendo prometido que jamais te abandonaria, acabei traída por algo bem mais poderoso do que eu. Perdoa-me homem da minha vida, não vou estar por perto quando precisares de mim, para te cuidar como apenas eu saberia, mas vou deixar-te o melhor que fui, mesmo que lamentavelmente saia "daqui" vazia, sem qualquer bagagem, sem voz, sem olhar e sem toque. Não sei para onde vou e por quanto tempo, mas sei, neste preciso momento ainda, que não mudaria nada do que fui para ti, e que se tivesse que voltar atrás, se me concedessem um desejo, seria apenas o de te abraçar mais tempo, mais vezes e mais forte.
Enquanto ainda sou eu, vou ter que te agradecer por cada pedaço de memória que construíste comigo, e que tu manterás, muito para além da escuridão que se instalará na minha. Quando o que sou partir, liberta-te do meu corpo e fica apenas com o que alguma vez importou. Um dia estaremos juntos outra vez e nessa altura saberei que és tu, prometo.
De quem ainda se lembra que te adora,
S.A