Foi simpático da tua parte perguntar, mas sabes porque pudeste ver, que estou bem e que o nosso tempo, aquele que quase pareceu parar, restaurou-me. Primeiro ocupei-me apenas a tentar sobreviver, depois, e quando percebi que já não voltarias, o meu corpo passou a mover-se determinado e sem nunca se recusar a obedecer-me. Esforcei-me, IMENSO, para não ceder à minha vontade de me fechar e de nunca mais aceitar quem quer que surgisse para me tentar e consegui. Já estou na segunda fase do desamor que se instalou. Já percebi que apenas eu lamentei a nossa ruptura e apenas eu senti, realmente, falta de nós.
Hoje fizeste-me bem, foi tranquilo e parecias apenas um velho amigo. Falámos de tudo, excepto do sentimento que poderia continuar a nutrir por ti. Poupaste-me à sensação de desconforto que certamente iria sentir por já não te amar, é que na realidade pareço ter sofrido tanto, e olha que sofri mesmo, mas curei-me. Ufa! Passeámos juntos, numa caminhada em que parecíamos um casal e em que de mãos dadas me senti protegida e cuidada. Fui, ora falando acelerada de tudo o que me aconteceu, ora calando-me por me sentir envergonhada com tanto sentimento rejeitado. Secaste as lágrimas, sorriste-me para que te sorrisse de volta e quase que consegui ouvir o teu coração bater, de ansiedade, de medo e de alguma tristeza, como disseste, por não saberes como me provar que seria a mulher mais amada do planeta se te aceitasse de volta.
Perdoa-me meu amigo, talvez a perda até seja minha, mas tu um dia encontrarás a mulher que receberá essa tua grandeza de alma e nunca mais olharás para trás, tal como arriscaste fazer comigo e me perdeste. Um dia serei eu a ver-te sorrir e certamente que os sabores serão misturados, pela alegria de te saber feliz e pela tristeza de nunca mais poder ter dias como o de hoje.
Tal como comentava hoje com uma boa amiga, o pior do mundo virá sempre dos mal-amados, porque eles são uma espécie de bactéria sem qualquer antivírus conhecido ou por inventar. Os mal-amados arrasam tudo e todos à sua passagem. Não gostam de nada e culpam o tempo, o mundo, os outros, mas nunca a si mesmos pelo desamor instituído. Os mal-amados, como se percebe, nunca foram amados e por consequência não sabem amar.
Como se identificam então, para que possamos fugir deles a sete pés? Pois, esta é a parte irónica da coisa, é que na verdade estamos rodeados deles por todos os cantos da nossa vida. Estão em maioria e governam até os governantes. Têm posições de destaque e por isso estamos todos sujeitos às suas garras invisíveis. Nunca têm soluções, apenas problemas e mesmo que tentassem com toda a força que devem possuir, jamais teriam forma de dar uma resposta que fosse, a uma pergunta mais complexa. Para eles tudo tem uma dimensão gigantesca e até os rios correm ao contrário.
Fujam dos mal-amados e fujam de vocês mesmos se apresentarem algum sintoma estranho. Não queiram ter do vosso lado quem nem saiba dar nome ao que aparentemente diz sentir e mais ainda do que fugir, não queiram sequer chegar perto de um ou de uma, porque certamente acabarão contaminados pela negatividade instalada, é que para se ser mal-amado já se calcorreou muitos quilómetros e dificilmente os conseguirão bater.
Se já vivem com um, resta-me desejar-vos muito boa sorte, uma dose reforçada de paciência e sorrisos aos magotes para combaterem a capa negra que os envolve!
Hoje a conversa entre mim e a Ana, foi do que ainda recordo. Estamos um pouco nostálgicas, deve ser do aproximar de mais um fim de ano. Incrível como consigo sentir o prazer, o tremor e a adrenalina que o meu primeiro beijo me trouxe. Foi mágico e sofrido e nunca nenhum outro poderá igualá-lo, não pela qualidade, mas pela sensação irrepetível da primeira vez.
O José Miguel foi o meu primeiro namorado, teríamos ambos entre os 11 e os 12 anos. Ele munia-se sempre de um ar de sabedor, de dominador da situação, mas quando o momento é que foi lindo. Ainda consigo sorrir sempre que o recordo. Precisámos de mais de 30 minutos para o consumarmos, foi em casa de uma colega de turma e vizinha. Também ela e o namorado partilharam da nossa emoção e desespero. Iam entrando vezes sem conta na sala e perguntando - Já está, já deram? - mas nós íamos e vínhamos nas vãs tentativas, muito envergonhados e receosos da performance.
Estamos a falar de há mais de 30 anos, por isso convém recordar que eram outros tempos e emoções diferentes!
Quando finalmente aconteceu, foi como se sentíssemos uma descarga elétrica. Não conseguíamos afastar-nos, queríamos tudo. Pareceu uma eternidade, no entanto durou apenas alguns segundos, tantos quantos foram necessários para que percebesse-mos o quanto gostávamos um do outro. Estava dado o meu primeiro beijo e apenas anos mais tarde eu saberia a importância que teve na minha vida. Foi através dele que consegui reconhecer o meu estado de pura inocência.
Tive muitos outros beijos e espero ainda sentir muitos mais, mas a magia do primeiro nunca mais desapareceu, essa ficará para sempre!
Agora apenas nada! Agora acho que já não me sinto. O meu corpo não me obedece, abandonou-me, deixou-me a desejar parar de me mover e pede-me a cada dia que desista e que acabe como tu, no lugar para onde te perdi. Lutar foi o que fiz. O desejo de que houvesse um erro, de que fosses mais forte e que o nosso amor bastasse para empurrar o que te consumia, pareceu a opção certa. Nunca te deixei sentir o anoitecer. Nunca te abandonei. Ofereci-te o que desejava para mim mesma. Tive-te, tivémo-nos, com uma intensidade e velocidade que nos permitiu tocarmo-nos bem dentro, sermos um só e estarmos vivos enquanto a morte nos rondava a ambos.
Deixei que acordasses com o meu olhar vibrante, mesmo após tantas noites em claro onde te olhava e vigiava o teu sono inquieto. Percorri todos os pedaços do corpo que tantas vezes me enlouqueceu de amor e memorizei cada sinal, os músculos que fraquejavam e os cabelos que cheirava para te armazenar. Foram tantas as vezes que consegui estar dentro de ti, viajando para o lugar onde te perderia, tocando a tua alma e gritando em silêncio que se te perdesse não iria resistir. Foram tantas as vezes que implorei que me levassem a mim e tentei explicar, em vão, que não sabia como ultrapassar a tua perda. Foram tantas as preces e os choros, enrolada em mim.
Acabou por ser a caminhada mais difícil da minha vida. Fi-la ao teu lado, liderei-a algumas vezes e recuei para que brilhasses durante o tempo que te restava. Tudo o que terminou contigo testou cada um dos meus limites. Cada etapa foi ultrapassada sem que nem eu soubesse como passaria à seguinte. Cada amor feito, mais de mansinho, mas com bem mais entrega e certezas, serviu para que soubesse o que estava a perder. Cada olhar teu, entrava-se-me na alma até me secar e matar. Cada lágrima derramada por ti, e que eu bebia para poder sentir algum calor, servia para que também as minhas se misturassem e tivessem onde se encontrar.
Não sei de que forma me conseguirei reconstruir. Não sei se alguma vez voltarei a ter voz, ou a sorte de morrer de amor, de me deitar quieta e de já não acordar. Não consigo sentir-me, estou tão vazia que me dói respirar. Os sons que me acompanhavam não existem mais, nem sequer a música me envolve. Foste-te e contigo metade de mim deixou de existir. Apagaste-te e o meu sorriso nunca mais se voltará a iluminar. O que me resta agora é apenas nada!
De mansinho. Enrolada em mim mesma, quieta, sem falar e sem me mover mais do que o necessário. Não posso espantar os pensamentos. Não quero descuidar-me, porque preciso de sentir o ar a entrar, e a respiração entre-cortada. Preciso de ouvir os meus sons, de estar atenta ao que me diz a alma, e de perceber por quem bate afinal o meu coração, porque ele não está dorido, apenas cansado!
A música tem o volume certo. O que me rodeia ainda mexe. Ainda me sinto por dentro. Mesmo quase sem pestanejar ainda estou viva. Shiuuuu, não se podem movimentar muito, não me podem distrair, porque não tenho muitos momentos assim, em que sou eu primeiro, apenas eu e o mundo da forma que o desejo.
Estou a tocar-me. A pele é macia. Os cabelos parecem mais longos e consigo ver-me sem me olhar. Sou eu, sempre, até quando fecho os olhos. Sou eu mesmo que já não seja a de ontem, permanecerei a que reconheço.
Hoje estou assim, quieta. Hoje deixo-me ir de mansinho, sem pressas. Hoje estou assim, mas continuo a mesma!
Como diz o ditado, o que não tem remédio, remediado está!
Estou há algum tempo a acusar o desgaste que a minha escolha me está a trazer, por isso quero e preciso de parar com o que não me faz bem e não me permitirá rir como tanto gosto de fazer. Gosto de estar de bem comigo e com o mundo e não quero bem pontas soltas, nem amargos de boca, Não quero impor nada a ninguém, nem sequer a mim mesma.
- Olha lá rapariga (esta sou eu a falar comigo mesma) mas afinal o que pensas que estás a fazer?
- Tens razão, mas julguei que me bastava querer para acontecer, no entanto o dito cujo Universo respondeu-me que nem sempre me pode dar impossíveis e que já esgotei a minha cota.
- Então e no que ficamos?
- Saltamos fora enquanto o comboio ainda vai devagar.
- Espero então que seja rápido, porque já me cansei de esperar por ti e sem ti sou apenas metade.
- Bem sei que sim, perdoa-me a incapacidade de te incluir neste processo, afinal de contas tiveste sempre razão.
Sim eu faço exatamente isto, falo comigo. Falamos ambas, eu e eu mesma, tentando contrariar o que uma ou outra escolha de menos certo. Falamos para pesarmos e medirmos o que nos deixará pior do que começámos e assim regressarmos ao que sempre fomos.
Ser mulher e estar nesta fase de conhecimento que tem tanto de BOM quanto de DESESPERANTE, é perceber que se tem mesmopoder, mas que nem sempre apetece conhecer o caminho todo antes de o percorrer. O elemento surpresa desvanece-se, mas como nem tudo é mau, fica a segurança e a certeza de que só vale a pena ser assim, porque no final do dia o balanço terá que ser positivo, venha quem vier.
Não sei se fiz algum sentido, mas é o que dá sermos duas, baralhamo-nos!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.