Uns têm, outros não! Talento, perseverança, sorte, a que criam e a que procuram. Uns têm força e capacidade de seguir em frente, querendo ser melhor a cada dia. Outros não querem porra nenhuma e limitam-se a andar por aqui.
Já me cruzei com seres corajosos, com pessoas reais que se sabem construir e renovar. Pessoas de fibra e que arriscam até a perder, mas que assim mesmo vivem, ao invés de se arrastarem. Mas também me cruzo, quase diariamente, com quem não faz acontecer. Com quem espera, sentado, pelo que nunca virá, a não ser que algo lhes caia em cima. Talvez assim acordassem.
Uns têm amor próprio e auto-estima, para dar e vender. Já outros são mais pequenos que minhocas e escondem-se do sol porque queima, da chuva porque encharca e da luz porque os deixa mais visíveis. BOLAS, que paciência deve ser precisa para não serem nem produzirem nada. Uns têm razões para sorrirem porque procuram a felicidade, enquanto outros parecem alimentar-se da desgraça pessoal, lamentando até a forma como respiram.
Não vou perder o meu precioso tempo a analisar-me, aborrecendo-vos com o que sou e faço da minha vida, mas na verdade tenho-me deparado com gente tão pequena e insignificante, que me custa aceitar que ainda ande por aqui, quando tantos outros fariam falta.
Se aceitarmos, todos, que uns terão aquilo que nos enche e preenche, mas que outros nunca passarão do menos de nada, as nossas preciosas energias não serão gastas em vão.
Uns vão sempre merecer o meu respeito, outros não!
Ninguém me conhece. Ninguém sabe do que sou feita, como me construo, o que espero de mim, da vida e de quem possa estar ao meu lado. Ninguém me conhece e nunca ninguém soube o que perguntar e como me olhar para me realmente. Eu sei que a minha carapaça era espessa e que me protegia do mundo, mas a verdade é que o mundo nunca soube ver-me para além do invólucro, ouvindo-me e bebendo a voz que apenas diz o que precisam de ouvir. Ninguém me conhece e todos acreditam que tenho uma força que tudo ultrapassa, mas eu sou, tal como cada um dos que me rodeia e sonha, insegura e frágil. Não o demonstro porque de pouco me valeria.
Para os que não me conhecem ainda, os que já se encontram no meu percurso, é bom que saibam que apenas irão recebendo os pedaços que me apetecer soltar. Ficarão com os minutos que me sobrarem, quando em algumas horas teriam céu e terra. Mar calmo e revolto. Sol e chuva intensa, daquela que nos lava a essência e nos repõe a inocência.
Estou para aqui, a olhar-me verdadeiramente e a lamentar que de todos, nem sequer tu, me conheças ainda. Percebi que afinal nunca irei ter o que julgava natural. Não te vou ter a ti, porque se não me conheces já e se tudo o que te mostrei, com e sem palavras, não bastou, então só me resta mudar o rumo e começar de novo.
Podemos até ir fugindo e é certo que o faremos todos, de uma forma ou de outra, mas quem se importar, verdadeiramente, com o que somos e representamos na sua vida, fará por saber. É assim que eu funciono. É assim que eu construo quem amo. É assim que vejo as relações, que terão que ser inteiras e nas quais precisaremos de saber do que mais ninguém consegue.
Se fosses realmente diferente. Se me conhecesses como ninguém conhece. Estarias aqui. Terias escolhido ficar. Saberias o que esperar e de que forma poderias contar, sempre, comigo. Mas a realidade é esta mesma, ninguém me conhece...
A vida depois dos 40. Não sei como cheguei aqui, de repente o calendário desatou a perder folhas e eis que já estou nos 50, CARAMBA!!
O meu balanço felizmente é muito positivo. Sinto-me verdadeiramente crescida. Não sofro de qualquer crise existencial. Entendo-me bem e sei do que falo. Sei porque quero desta forma e não de uma outra qualquer. Mesmo que reconheça que nem sempre tenho razão, não me ficam dúvidas, resolvo-as. Os meus passos são dados de forma cada vez mais segura, cuidando bem de mim e dos meus e sabendo que tudo o que faço se reflecte em nós.
O Universo é uma máquina poderosa, temos que saber quais os mecanismos que a fazem despoletar reacções adversas ou positivas.
Os 50 são os velhos 40, é uma realidade. Não sinto o "peso" da idade, mas por outro lado, sei que a minha intensidade emocional se deve tão só a tudo o que já vivi e ao muito que me preparo para ainda ter e viver.
Os balanços a que somos forçados, trazem lembranças penosas algumas, mas hilariantes outras. De cada vez que olho para trás e percebo a minha ingenuidade e insegurança, quase que não me reconheço. Quem era eu afinal e no que me tornei depois de tanto ter batido e rebatido na tecla da evolução? Sou mais crescida. Mais madura. Mais consciente do meu poder físico e emocional, mas ainda menina o bastante para não desistir do que mantém o sorriso.
É bom estar aqui, assim, eu, Mulher, mesmo na idade dourada. dói dizê-la, mas sabe bem perceber que não me apagou ou sequer diminuiu!
Fiquei num tom pastel, daqueles que não dizem quem sou, mas que passam bem o que sinto. A cor não estará definida, assim como não estarei eu também, mas a minha indefinição deixou de me escurecer a alma, e de me matar por dentro. Estava cansada de procurar respostas onde não chegavam, até quando eu era da cor azul céu e logo eu que gostava de perguntar porquê mesmo quando não uso palavras.
Andava cheia de medo de me fechar, de acabar a acreditar que tiria que me bastar e que sobreviver ao que ainda nem sequer chegou perto. Queria parar de fugir, de esperar e de querer. Queria e consegui, mesmo quando as cores que me envolvem não são vivas.
Não gostava do meu lado mais escuro e odiava-me quando nem conseguia sorrir. Odiava as lágrimas que já nem por dentro me lavavam. Odiava odiar. Mas hoje, mesmo que a cor com que me "visto" não seja a que mais gosto, parei de analisar tudo ao ínfimo detalhe e passei a usufruir do que sou e do que sinto no momento.
Agora estou sempre da cor que fizer para ter e mudá-las deixou de ser um desafio!
Eu acredito nos amores que chegam, em todos e em cada um. Eu acredito nos amores que nos revolvem o Universo, abanam as estruturas e acordam do marasmo. Eu acredito que tudo o que nos dão, porque podem e desejam, deverá ser bem recebido e acarinhado.
Os amores que chegam quando achávamos não querer mais nada nem ninguém, são os mais intensos e os que perduram para além do final inevitável. Alguns terminarão, mas apenas para darem lugar a outros, mais determinados, com novos códigos, dos que se acertarão com os nossos. Os amores quechegam quando julgávamos já não ser capazes de amar mais ou outra vez, são os mais ricos e com eles muitas lições para aprender.
Acredito que apenas a outra metade nos levará aos lugares que nem veríamos se nos mantivéssemos apenas nós, sozinhos e entregues ao que sabemos ser, mas sem nos espicaçar o desejo, envolvendo o corpo que apenas "acorda" e funciona se for tocado pelas mãos certas. Nada do que é nosso serve se não servir. Nada do que temos, aprendemos ou sentimos, consegue resolver a solidão que se instala quando nos sentimos incapazes de amar. Tudo o que aprendemos a ver e a desejar, só se materializa quando o amor, certo ou errado, irrompe para nos recordar do melhor que ainda temos por aqui.
Se não consegues ver que tens o melhor de ti e do outro, apenas por o amares e seres amado, então não sabes o que fazes neste pedaço de mundo. Ele tem tanto de complexo quanto de maravilhoso e se não sentes a liberdade que te passa a correr nas veias por pertenceres a alguém, então a tua prisão manter-se-á até que sejas, todo tu, consumido.
Tal como é possível sonhar, todas as noites e ao longo de cada dia, acredita que também é possível receber todos os amores que te couberem. Ama sempre contigo. Ama a dar o que tens e a pedir o que te falta. Ama sem desistires de sentir no estômago, na pele e na alma o que vale realmente a pena. Ama, agora e enquanto tens tempo de ser amado de volta, porque até os amores se vão e com ele, pedaços de nós.
Ama-me como já sabes que te sei amar e não terás que fazer mais nada, apenas fazer-me sentir o que só tu consegues. Estou a pedir e vou continuar a fazê-lo até que acredites que eu fui o amor que te chegou para ficar!
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.