30.1.22

Sabem o que me assusta mesmo?

janeiro 30, 2022 0 Comments



Assustam-me as pessoas que são assustadoramente velhas, de mente fechada e incapaz de continuar a olhar para o futuro como um tempo que ainda lhes pertence. Parecem ter desistido de tudo e agarram-se ao passado, simplesmente porque enquanto nele viviam, esperavam pelo tempo que agora lhes fugiu, com mais credulidade e esperança. Assustam-me as pessoas que se agarram às convenções e dão por certo o que têm agora, considerando que nada mais lhes faz falta viver, ou que já viveram tudo, deixando-se sobreviver. Assustam-me os olhares apagados de quem já não acredita em ninguém, porque na verdade nunca acreditou em si mesmo.

Para ti que ainda vais a tempo, "mobila" bem a tua velhice, rodeando-te de ti mesmo em primeiro lugar e depois de todas as pessoas que te saberão amparar nos deslizes emocionais, porque nunca estarás sempre em alta, forte e capaz de lutar contra o mundo, mesmo que ele seja apenas um quintal, ou a porta ao lado.

Assustam-me os que ainda não perceberam poder ter nas mãos o que antes lhes teria mudado toda a trajectória, as escolhas, os olhares, os tempos que desgastaram até já nada mais lhes restar e mais importante do que tudo o resto, o presente. Assusta-me, um pouco, não os conseguir salvar!

28.1.22

Estou quieta e de sorriso em riste a ver-te respirar!

janeiro 28, 2022 0 Comments



Estou quieta e de sorriso em riste a ver-te respirar. O sono não chega quando te tenho ao meu lado e sinto o calor que o teu corpo emana, aquecendo-me o coração e incendiando-me o desejo que não tens forma de matar. É ritmado o movimento do peito onde tantas vezes me aninho e serena a face que conheço de cor. Estou quieta porque não te quero acordar e porque preciso de usufruir de todos os minutos que me reservas quando e sempre que vens. A tua mão esquerda repousa na minha almofada e a direita segura-te a cabeça de onde caem as mechas de cabelos que tantas vezes acaricio e cujo cheiro reconheceria num qualquer planeta distante. Não consigo fechar os olhos e arriscar adormecer, mas mal resisto à enorme tentação de te beijar até que te sugue todo o ar que também me pertence. O lençol deixa a descoberto as pernas torneadas e desprovidas dos pelos que eu mesma te ajudo a tirar. Estás sem a roupa que apenas serviria para nos roubar tempo, mas cheio de todo o amor que fizemos até sentirmos que nos bastava. Estou quieta há tanto tempo que me permiti pensar em tudo o que somos, quando nos reconhecemos, o que já tivemos e fomos capazes de dar. Não precisaste de demasiada determinação porque fui rápida a render-me. Quando te conheci deixei de ter vontade de desafiar o tempo, ao invés corri com ele e é isso que hoje estamos aqui. Quando te senti soube que regressara a casa e tudo o que passei a fazer foi por ti, enquanto fazias de mim a mulher que já sabe o que significa ser cuidada.

Estava quieta, mas acabaste de acordar e o teu abraço diz-me que já não o estarei por muito mais tempo.

27.1.22

Não te pedi para que esperasses!

janeiro 27, 2022 0 Comments



Não te pedi para que esperasses. Não te enchi de falsas esperanças porque também já fui igualmente magoado e esquecido. Não te fiz sentir o inverso do que te tinha reservado, mas não tive como ficar.

Soube sempre que me iria arrepender e que depois de te largar as mãos que seguraram as minhas em vão, nunca mais te voltaria a ter. Soube, demasiado tarde, que me bastaria ter esperado um pouco mais para que todos os meus medos se esfumassem, tal como disseste, mas como fui incapaz de admitir. Soube, de imediato, enquanto olhava para o retrovisor e a tua figura diminuía, que um amor como o teu jamais voltaria, e chorei como os homens aparentemente nunca choram, mas nem as lágrimas me devolveram a paz que ainda busco e que ficou contigo.

Não te voltei a ver, não junto a mim, não de forma a poder tocar-te, mas vejo-te em todas as noites mal dormidas e reencontro-te em todas as manhãs em que me custa levantar. Não te voltei a ouvir e sentir-te passou a ser uma miragem neste mar de água real que nos separa, mas num enorme deserto auto imposto. Não te voltei a esperar como fiz enquanto nos buscávamos e agora apenas espero pelo dia em que o meu coração sossegará com o que não lhe dou e me desculpará pelo que não sou. 

Não te pedi para que esperasses por vergonha, mas mataria hoje por mais umas quantas palavras ditas por mim e aceites por ti. Não te pedi para que esperasses e acabei numa espera que me rouba a pouca vida que me restou e na qual te sei feliz, para minha grande infelicidade.

26.1.22

Quem és afinal?

janeiro 26, 2022 0 Comments


Tens mistério no apelido. És fugidio, diferente, mas muito próximo do que considero certo. Pareces saber muito sobre mim, ficando numa enorme vantagem, já que a cada dia sinto saber ainda menos sobre quem és e o que esperas de nós, se é que esperas alguma coisa. Vais e vens sem promessas, ou desculpas. Falas do que sabemos falar juntos e quando acredito estar a acertar, deixas-me. 

Amanhã estarei por mais um dia à espera e mesmo que me convença do contrário, ou tente, as horas irão correr contigo no pensamento. O que fazes? Com quem acordas e de que forma levas as noites em que não estou por tua escolha?

Não sei ao que soa o timbre da tua voz, mas gosto de a imaginar, sentindo-a entrar em mim e ressoando com as palavras que sabiamente usas, deixando-me a querer mais, muitas mais. Não sei o que pensar de todos os pensamentos que me envolvem e do tempo que me "roubas" até quando estou, mecanicamente, a fazer o que me cabe. Não és igual, ou sequer parecido com os poucos que comigo se cruzam e não te vergas à vontade silenciosa que tenho de ti, mas que descortinas tão bem. Não me deixas liderar no mundo que decidi criar, porque me assenta como a uma luva e nunca estou segura com a tua segurança. Não me pedes o que seria expectável, mas também não ofereces nada do que estou há muito pronta para receber. 

Tens algo que julgava não procurar, mesmo que aparentemente não tenhas nada que acreditasse precisar ou sequer querer. Tens uma luz que chega para me iluminar quando apareces, mas rapidamente me deixas às escuras e incapaz de me renovar. Tens o que ainda não consegui entender, mas já entendo o que sinto quando não te tenho e não gosto.

25.1.22

O que escolhes escolher, o certo ou o errado?

janeiro 25, 2022 0 Comments

O que é errado está sempre disponível, mas o mesmo se passa com o certo, por isso somos nós que escolhemos qual ver e seguir!

O que diz de nós, também, é a forma como olhamos para os outros e os catalogamos. Quando opinamos, quer seja numa crítica construtiva ou destrutiva, fazemo-lo com base no que acumulámos, afunilando ou expandindo o olhar. Somos fruto das nossas escolhas, caminhadas, todas as idas e regressos em simultâneo, ou com enormes espaços temporais. O outro não existe, dizem os aprofundados da espiritualidade, segundo eles estamos todos conectados e por consequência, ao desferirmos algum golpe, ferimo-nos, inevitavelmente.

O senso comum está sempre numa falta constante, tal qual medicamento raro, porque a ser usado, surpreendam-se, resolveria do mais fácil ao ainda mais complicado de forma suave e automática. Tantos que são os iluminados e tão poucas as acções que os complementam. Parecem saber de tudo, sobretudo do prático, mas no que diz respeito ao que nos mantém por aqui, mais unidos e capazes de resistir às cada vez maiores intempéries emocionais, são uns completos imberbes. O que vem depois do gatinhar é a caminhada desajeitada, mas logo de seguida a corrida segura, assim sendo, de que forma ainda toleramos supostos adultos que se arrastam de rabo com medo das quedas que muito provavelmente os salvaria de andarem continuamente às voltas?

O errado é a tua incapacidade de procurares o certo, colocando-o na dianteira de tudo o que ainda te falta fazer. Tenta, uma vez que seja e quem sabe não acabas tão surpreendido quanto resolvido e ainda mais completo.