21.3.22

Acordei e já não estavas aqui!

março 21, 2022 0 Comments



Acordei com um silêncio estranho que me enregelou mesmo antes de me destapar. Acordei a sentir que algo se passava, mas cheia de receio de descobrir o óbvio. Acordei para uma casa vazia e todas as minhas entranhas se revolveram, deixando-me capaz de deitar fora o que me sufocava, mas ficando com tudo o que já só ficaria comigo. Acordei e coloquei os pés no chão frio e todo o meu corpo estremeceu. Acordei e já não estavas mais aqui.

Nada do que era teu permaneceu e todas as promessas de viagem sem volta acabaram cumpridas. Nada do que te disse, vezes sem conta, serviu para que mudasses de rota e aceitasses o lugar que desejei poder ser teu. Nada de mim pareceu contar para que contasses connosco juntos e por isso partiste, mesmo que tivesse pedido que jurasses nunca o fazer, cimentando o amor que me dizias ter. Nada do que me deste bastou e agora, de repente, num dia que não vou querer recordar, fiquei sem ter o que fazer e ninguém para me impedir de sufocar.

Acordei e o nada instalou-se. Acordei e tudo o que me pertencia, até o mundo como o imaginei, foi-me levado. Acordei, sabendo que a dor permanecerá por muito mais tempo do que tu e não tendo como a fazer sair, porque não a levaste e não quiseste ficar. Acordei e no mesmo minuto soube que nunca mais nada voltaria a ser igual e que a tua partida me mudaria para sempre. Acordei apenas para perceber que te perdi.

20.3.22

Não quero um amor assim...

março 20, 2022 0 Comments


. Quem foi que te endureceu ao ponto de permaneceres uma eterna fugitiva?

. Só fujo do amor, mas estou disponível para tudo o resto.

. Porquê do amor, do que tens medo?

. Das amarras invisíveis, dos cadeados nas pontes, da simbologia que carrega quanto ao sempre, porque    na verdade nada é eterno, mas não me venhas com a teoria das mágoas infligidas por amores mal sucedidos que comigo não colam, nem me representam. Decidi tão somente fugir do que não me permite ter o controlo e de todos quantos anseiam pelo que não tenho forma de dar, não agora e provavelmente que também não lá para a frente. 

"Não quero um amor civilizado, com recibos, ou tempo no sofá. Não quero que regresses no tempo e chegues do mercado com vontade de chorar. Não quero tardes de domingo. Não quero um baloiço no jardim. O que quero, coração cobarde, é que arrisques a tua vida por mim, porque eu morreria contigo se te matasses e matar-me-ia se morresses. Porque o amor não morre, ele mata. Porque amores que matam nunca morrem". (Alejandro Sanz - Contigo).

Quem foi que definiu as regras do amor e armadilhou os caminhos dos que tentam contorná-las, tornando-as mais próximas do que ele deverá ser na verdade? Quem é que nos garantiu, lá muito atrás, num passado que já não se encontra com o presente, que só se poderia chamar amor ao que se parecesse com amor, quando por vezes ele chega sem que se pareça com nada conhecido, mas ainda assim mudando-nos irremediavelmente por dentro? Quem é que ainda tem no amor a razão para estar vivo e sente que nada teria se não o pudesse sentir? Quem é que ainda acredita poder vir a encontrar um amor que não cobre ou defraude a expressão máxima que parece carregar? Quem é que ainda sabe o que é amar, não querendo menos que tudo, mas tendo tudo por se sentir a amar?

19.3.22

Subir, subir sempre, até ao cimo!

março 19, 2022 0 Comments



Já quase que consigo ver, nítido e vivo, o sonho que continuo a sonhar. Parece mais próximo quando estou do meu lado certo, mas vai e volta foge-me, talvez para que me mantenha forte, determinada e a acreditar. É feito de tudo o que acumulei, até de algumas desilusões, se não de todas e é o que me impede de mudar de olhar, achando que nunca será mais do que um sonho. A almofada tem sido a minha melhor confidente e é nela que pouso a cabeça que gira e gira, enchendo-se dos pensamentos que crescem com as emoções que me permito, mas que sossega quando regresso ao mesmo ponto da noite anterior, reencontrando-me com a felicidade que sei existir porque já a senti e provei de tudo o que tem para me oferecer. É na calada da noite, onde apenas eu sei como terminar cada um dos dias que me imponho, que mais nada nem ninguém me impõe o que quer que seja, porque sou invadida de toda a liberdade que torno possível.

Já quase que perdi a fé e mesmo que de quando em vez ela ainda ameace partir, deixando-me tão vazia e nua quanto o são os que não encontram onde se agarrar, continuo a reabastecer-me do que terá que existir, de contrário a minha existência seria em vão. Por vezes quebro os pilares que me mantêm forte e segura, mas depressa os reconstruo, vendo para lá de cada montanha que terei que subir para poder ficar do outro lado e recomeçar. As lutas que ainda travo nunca serão em vão, porque me acrescentam e melhoram, mas já precisava de umas quantas tréguas e de já estar em "casa".

Já quase que sei de cor os movimentos que me imprimo e por isso é que me movo ainda mais segura, de sorriso em riste, mas olhando por cima dos ombros, não vá alguém julgar que já sei todas as respostas. Já passei a margem e enregelei o corpo na água que não me refreou, mas manteve atenta a qualquer movimento errado ou fora do tempo. Já me apeteceu gritar, a plenos pulmões, o que me consome por estar demasiado dentro de mim, mas percebendo que não terá como estar lá fora, porque apenas eu o consigo entender. Já me forcei a duras caminhadas, não sabendo de que forma poderia regressar, mas regressando sempre e aumentando, corajosamente, as  distâncias que deixam uns quantos tão pequenos e difusos, que quase duvido de alguma vez terem existido. 

Já quase que me levei ao limite, mas por saber que teria que colar cada peça de volta e por medo de não saber como, parei-me para não ter que ser parada e prossegui ainda maior, acreditando ainda mais no que finalmente sou capaz de fazer. Já quase que deixei de acreditar no amor, mas porque ainda o vejo bem espelhado numas quantas almas plenas de luz, escolho esperar que um dia também venha para mim, talvez saído do sonho ao qual ainda tenho que regressar, mas quiçá poderá ser a minha realidade.

Não sei o que é ser pai!

março 19, 2022 0 Comments
adorable, baby, born

Não sei o que é ser pai

Não sei de que forma, sentem os medos e as conquistas dos filhos. Não sei se o coração também se lhes encolhe, até ficar demasiado pequeno para respirarem, de cada vez que a sua prole se magoa ou coloca em situações de perigo; Não sei ao que lhes sabem os beijos que dão quando ainda não lhes encurtam as manifestações de amor; Não sei se identificam os choros e se serão realmente tão fortes quanto fazem parecer; Não sei que força imprime a mão de um pai que aperta, de forma segura a do seu filho, não sei se o faz alheado de tudo, apenas porque precisa de o proteger, ou se também ele sente que enquanto as mãos estiverem enlaçadas, aquele ser que ajudou a nascer, pertencer-lhe-á verdadeiramente; Não sei se apenas concordam com as mães para que não se aborreçam, ou se sentem mesmo que elas preenchem a parte que não possuem; Não sei o que sonham de cada vez que sonham com o futuro dos filhos e se também se vão revendo no que fazem e dizem. Não sei o que é ser pai e não pretendo tomar-lhes o lugar, porque a mim foi-me atribuído um papel diferente.

O que realmente sei, após uns quantos quilómetros de vida, é que cada pai pode acrescentar aos filhos a experiência que a mãe nunca terá. Sei que o tom de voz e os movimentos do corpo serão repetidos e a serem bem-feitos, ampliarão a vontade que ainda estarão a maturar, de serem iguais, tão grandes e tão seguros quanto os seus olhos forem capazes de ver; Sei que um pai, tal como uma mãe, terá que viver, dia após dia, perto e o mais dentro possível, do coração de um filho. Um pai terá que saber quando faz falta, mesmo que não lhe peçam e raramente o farão; Sei que um pai, e cada vez teremos mais pais assim, tem uma forma diferente de adormecer e de acordar cada um dos seres que lhe foram confiados; Sei que os carregam às cavalitas, dizendo as tonteiras que precisam de ouvir para também eles serem tontos e descontraídos; Sei que lhes ensinam a chutar as bolas com a força que a mãe nunca terá e a atirar as pedras que saltam rio fora; Sei que lhes velam o sono e aconchegam os cobertores; Sei que os beijam de mansinho para que não percebam que também eles lhes têm um amor que por vezes parece não caber no peito; Sei dos planos que vão fazendo, mentalmente, sem saberem a quem rogar por ajuda e sucesso. Sei que quando os veem dar a primeira cambalhota e usar a bicicleta sem as rodinhas se enchem de um orgulho que lhes sai pelos olhos. Sei alguma coisa sobre o que significa ser pai, até porque também tive um, mas o que nunca saberei, porque não posso nem preciso saber de tudo, é do que são feitas as suas emoções. Isso cabe-lhes por inteiro, assim como lhes cabe ensinar tudo o que sabem, mesmo que lhes pareça que nunca os imitarão. Ser pai também tem um peso e uma importância que ninguém se deve atrever a retirar e mesmo que saibamos que alguns nunca serão capazes de ser o que deles se espera, a verdade é que até o que se impedem de fazer servirá de exemplo.

Desejo a todos os pais um dia tranquilo de reflexão e que não esperem, do nada, por aquilo que não foram capazes de dar, porque para um filho, terá sempre que ser TUDO. Deem sobretudo certezas e o que fizerem devolver-lhes-á a tranquilidade e a segurança que não pedem, mas de que necessitam para serem seguros. Desejo, a cada pai que não se afaste demasiado, dando à mãe todos os papéis importantes, porque elas apenas conseguirão fazer bem o seu. Desejo que aprendam a usufruir de tudo o que um filho faz, mesmo quando parece não fazer nada. Desejo que saibam o que significa ser pai e que assim transformem os seus filhos em pais que todos desejarão ter. Desejo-lhes um dia pleno de sorrisos e de abraços.

18.3.22

Vai na frente!

março 18, 2022 0 Comments



Vai na frente e prepara-me o caminho. Toma a dianteira e permite-me repousar, deixando de me preocupar com o que até consigo fazer, mas não faço assim tão bem. Mostra-me do que és feito e usa a tua força para acrescentares a minha. Sê o meu refúgio e o lugar no qual não precisarei de me esconder de ninguém, porque me manterás a salvo. Vai na frente e mostra-me o quanto estás capaz de fazer crescer o amor que me tens.

Nem sempre conquistei a coragem que me sossegaria o coração, porque escolhia a força aparente e a determinação que me quebrava por dentro, mas fortalecia aos olhos dos outros. Nunca tive, sei-o agora, quem me desse o colo que dizia não precisar e me assegurasse de que não teria que saber tudo, nem fazer tudo o resto sozinha. Aceitei, sem questionar, que nunca iria esbarrar na minha versão masculina, no homem que me conduziria, deixando-me liderar e que me amaria, permitindo-me chorar, quebrar e duvidar, mas apenas para juntar de volta todas as peças, jurando-me que não iria fugir, até porque não teria por onde.

Vai na frente, eu deixo e desta vez peço e agradeço. Vai na frente, mas não me largues a mão que passou a procurar a tua, sabendo que já sabes um pouco mais e que por isso posso respirar mais devagar, permitindo que a cabeça repouse no teu ombro seguro. Vai na frente ciente de que te seguirei sem medo, porque já lá estive, mesmo que sozinha, mas pronta para voltar a cada lugar contigo. Vai na frente desta vez e prometo que te revezarei na próxima, porque também irei estar onde te fizer falta, permitindo-te a segurança e o calor que o meu amor já te consegue passar. Vai na frente, mas olha para trás de quando em vez para que saibas que te continuo a seguir e que confio nos passos que os meus acabarão a repetir. Vai na frente, pelo menos hoje, porque preciso de te ver de outro ângulo, tranquilizando-me com as escolhas que me farão escolher melhor, mesmo que já tenha feito a mais importante.

16.3.22

Sei o que estás a lamentar!

março 16, 2022 0 Comments



Sei que estás apenas a lamentar o que deixaste escapar e te deixou a descoberto. Sei que já sabias o que pretendias fazer e que não ficaste com nenhum pingo de remorsos. Sei que não aprendeste nada sobre o amor, mas também sei que não me cabe ensinar-te. 

Quando não somos a parte que acerta o outro, nada do que fizermos alguma vez será bem feito. Há tanto que deve ser visto e revisto em cada reinício, que se o falharmos, as chances de falhas monumentais serão maiores. Somos feitos de massas específicas, queremos o que poderá não fazer sentido para quem não quer de igual forma e não raras vezes dizemos o que não soa a coisa alguma, não a quem diz o oposto. Quando o que vemos no nosso futuro está, há muito, no passado de quem se cruzou connosco num presente que apenas servirá para que nos possamos reavaliar, avançar será tão errado quanto esperar pelo que não poderá acontecer.

Sei que estás apenas a lamentar que tenha descoberto quem és e o que carregas, mas que muito provavelmente terei tão somente atiçado a tua capacidade de dissimulação e que regressarás mais forte do que antes.