3.4.22

Há sempre tanto e tão pouco!

abril 03, 2022 0 Comments

Há sempre tanto que julgas saber, enquanto não és julgada ou avaliada, mas que eventualmente, num qualquer dia imprevisível, te acorda para a realidade que escolheste viver. Quando és apenas tu, no teu registo e sem que nada nem ninguém tenha como entrar ou intervir, deixas-te ir, sem demasiadas exigências, ou exigindo-te em demasia. Há sempre lugar para que mais te acrescente, isso até o saberás, no entanto se te encheres de ti mesma, considerando que nada te falta, de pouco valerá que te tentem dar ou ensinar o que quer que seja.

Somos feitos de todos os lugares por onde passamos e das muitas pessoas que nos marcam, por vezes a ferros. Somos a soma de muitas divisões amorosas, familiares e até profissionais, ficando com o que restar de cada uma e sentindo, amiúdes vezes, que ora se tem em demasia, ou sempre se terá o que não basta. Somos tão imperfeitos quanto o efeito negativo que produzimos nos outros, ou tão perfeitos que levaremos a que muitos se olhem com mais atenção, mudando não apenas os lugares, mas os nomes que lhes enfeitavam os lábios e que pareciam demasiado importantes para esquecer. Somos de uma anormalidade cada vez mais normalizada, ou tão normais que não caberemos em lugar algum. Somos demasiados a remar para o lado oposto e muito poucos a saber qual a margem mais segura. 

Há sempre uma visão que engana a nossa visibilidade e haverá sempre quem consiga ver o que nem sequer parece estar visível. Há sempre um dia que vem carregado do que mudará todos os outros.

2.4.22

Como é que te poderei sossegar?

abril 02, 2022 0 Comments



Venha o tempo e o momento. Venham os lugares que nos façam sentir em casa e com cada um o regresso tão desejado. Venha o amor que me prometeste para que o meu te seja devolvido com a mesma entrega e intensidade. Venha o que me cabe, porque apenas assim saberei onde caber contigo e por ti.

Dizes, mais vezes do que desejava, que pareço nunca dizer o que tenho dentro, mesmo que me esforce por te tranquilizar, assegurando-te que ninguém do passado virá para nos ensombrar. O teu corpo movimenta-se sempre com algum desconforto, até quando te toco para que me saibas tua, e sendo-o com tanta entrega, que me doem as entranhas pela incapacidade de te sossegar. Dizes sempre o que sentes e pensas da forma como nos penso, mas o medo nunca abandona o meu olhar quando me olhas, desesperado e a querer antecipar o que não pretendo fazer. Dizes tantas vezes que me amas, talvez porque precises de o ouvir, mas é com o maior dos meus sorrisos que te confirmo que deste lado tudo é igual, tão forte e determinado quanto foi o nosso início. Dizes o que não queria ter de ouvir, mas vou-te reservando, pacientemente e com tudo de bom que acordaste em mim, o que um dia te bastará, para que nenhuma palavra, por mais pequena, te impeça de acreditar.

Venha o tempo pelo qual tanto anseio, hoje muito mais do que antes, para que a "casa" que construo, com todo o amor de que sou feita, te possa finalmente confirmar que o que tenho nunca servirá a mais ninguém.

1.4.22

O que é que receias?

abril 01, 2022 0 Comments


Como abrir, de novo, o coração sem o espartilhar demasiado e sem o forçar a sentir menos ou a receber devagar? Que controlo acreditamos poder ter em relação aos que nos chegam, sem que descontrolemos o ténue equilíbrio que existe no mundo como o conhecemos? Qual a fórmula certa dos que parecem saber como ter e manter quem os reconhece, reconhecendo-os sem demasiadas avaliações, ou avaliando-os apenas pelo que são?

Não receio as noites vazias de gente, porque estou inteira em cada uma, mas gostava de saber como gostar mais dos outros, não lhes vedando o acesso já tão estreito e parando de recear o que me trarão, porque seguramente será o que me faz falta. Já quase que deixei de ter referências que me permitam ajuizar, avaliar e usufruir duma relação nova, mesmo que não as possa esquecer, posso claramente perder algum jeito (o que até que poderá ser bom, visto não ter sabido como manter relações). Dia sim e dia não, sinto vontade de ter mais um pouco de vontade, mas pareço continuar a gatinhar, demorando para me suster em ambas as pernas e simplesmente andar. Medos? Uns quantos, e mesmo que os tente afastar, sei que terão que andar por aqui para que ande de forma mais confiante e segura.

Não sei como mudar os chips, mudando-me no percurso e usufruindo um pouco mais de mim e do que ao dar acabarei por receber. Não sei fazer mais nem diferente, não no que concerne a relações e não para me poder encaixar, redefinindo as posições. Não sei do que sei afinal, sinto que é muito, mas que está direccionado para outras partes de mim. Não sei o que me direi, um dia, quando já nada mais estiver nas minhas mãos, mas acredito que me munirei de boas razões, porque as acumularei, após umas quantas tentativas e erros. Não sei se serei apenas eu, lá à frente, mas a acontecer, terei que me bastar.

30.3.22

Vais sempre ter um outro amor!

março 30, 2022 0 Comments



Vais sempre ter um outro amor, se estiveres pronta e se aceitares quem muito provavelmente já esperava por ti há algum tempo.

Escuta com atenção a voz que te sussurra dentro, mas afasta o que te disser que soe a falta de coragem, porque sem mexeres um dos pés, nunca terás forma de chegar a algum lugar. Se fosse fácil, estar disponível, vulnerável e aberto a que nos entrem alma dentro, perscrutando o que temos de mais escondido, mas que a ser revelado até revelará o melhor de nós, ninguém fugiria da vida, das relações e do amor. Se fosse tão difícil quanto fazemos parecer, querendo sem saber muito bem porquê, provavelmente que por esta altura pouco do mundo teria restado.

Vais sempre precisar de recomeçar depois de finais impostos, se não desistires de andar por aqui, sendo seguramente mais completa e fortalecida, porque para cada etapa uma lição e porque a junção de muitas que te tornarão ainda mais sábia.

Liberta-te das pessoas que te mostraram o pior da vida e até de ti, arrancando as páginas que escreveste e reescreveste achando que a tua visão seria a mais certa e que acertadamente julgavas quem eram e os seus motivos. Nunca saberás tudo e por vezes nem o essencial te será revelado, por isso segue em frente e aceita as tatuagens que te fizeram, consciente de que é a ti que te cabe torná-las permanentes ou temporárias.

Vais sempre ser a pessoa que importa na vida de alguém, por isso prepara-te para quando acontecer, sentindo-te à altura do desafio.


Spring sunny days!

março 30, 2022 0 Comments


Sue Amado´s photo


 Céu limpo e sol para aquecer até a alma, mas com um vento que pelo menos ajudou na corrida!

29.3.22

Tenho saudades de mim!

março 29, 2022 0 Comments


Agora são tantos, com tantas opiniões, mas tão poucas que importam, que passei a importar-me cada vez menos!

Tenho saudades do tempo em que vivia para aceitar que me aceitassem, mas sem esforços desmedidos, porque era tão somente eu e no modelo que parecia até encaixar-se. No alto da minha ideia de perfeição, sabia-me imperfeita, mas acreditava que a atingiria um dia. Não vivia para questionar, permitia-me viver, sentindo o calor dos sorrisos que me enfeitavam os lábios de forma quase diária. Tenho saudades de mim, da que não precisava de planear demasiado para concretizar, porque seguia, de forma confiante, por cada uma das estradas que mal conhecia, mas das quais regressava vitoriosa. Os olhares eram benévolos e as palavras mais suaves, mesmo que cheias de todas as questões a que poucos sabiam responder. Tenho saudades de ler os livros que me faziam apaixonar por vidas possíveis, sentindo-lhes o sabor e acreditando que se alguém escrevera sobre o que também queria, então é porque o tivera. As páginas eram devoradas como se o tempo me pudesse eventualmente fugir e nunca suspeitando que o faria eventualmente. Tenho saudades dos elogios que aceitava sem procurar por vírgulas mal colocadas ou por sinalética controversa, porque conseguia ser mais consensual. Tinha a ingenuidade dos jovens e a crença nos que diziam saber do que ainda procurava. Tenho saudades de tudo o que me enfeitava os dias, pedaços pequenos de coisas quase indeléveis, mas que bastavam. Nada era vivido em desespero, o que não tivesse ainda chegado, acabaria a ser meu e nunca me arriscava a duvidar. Tenho saudades de todos quantos me amaram, mas cujos amores desperdicei por ser tão cheia de mim e por achar que muitos outros viriam. Escrevia e recebia as cartas que me mantinham a sonhar e sonhava sem pressas, dando a cada pedaço de vida o tempo e o momento que precisavam para me fazerem crescer. Tenho saudades dos 5 anos, por ter aprendido a ler e por me terem ensinado o poder do que me acompanharia vida fora, as palavras. Brincava com as sílabas sem lhes adicionar pesos desnecessários, até porque não os tinha e porque a minha leveza, pelo tamanho e pouca vida, me permitiam desenhar um mundo à minha medida. Tenho saudades de não sentir saudades de nada, simplesmente porque a única coisa que importava era o que existia, o presente, e o futuro parecia pertencer-me na íntegra. Que saudades de mim, da miúda que a mulher escolheu deixar ir, mas que terá que recuperar, de contrário viverá eternamente de saudades.