Feel Me

Alina Louka Art

Fácil será tudo o que decidires. Bonito o que escolheres ver e para sempre tudo o que te tocar dentro, porque o resto nunca bastará e nem todo o amor do mundo te convencerá.

Preciso de alguém que me ame nas imperfeições, colocando-me em primeiro lugar e estando lá e aqui, na mesma posição, ou posicionando-me para que nunca duvide. Desejo e sonho com quem me fará esquecer o amor maior que tive e quero ter quem já saiba o que precisa de ter comigo e de mim. Espero, numa espera sem desesperos, encontrar quem passe por mim, mas segure os passos e o lugar para onde decidira ir, para segurar os meus. Anseio por beijos que sejam bem mais do que físicos e que me levem nos sabores que já sei que passo, passando-me para quem a minha boca nunca se cansará de beijar.

Fácil será tudo se já souberes o quão difícil é não saberes de nada, mantendo-te apenas enrolado nas palavras e sentimentos dos outros. Fácil é amar quem nos ama, mas difícil, a cada dia mais, será encontrar quem já não precise de se procurar e por isso nos reconheça e aceite. Fácil é querer parar de recomeçar depois do duro e pesado ter afastado o que faz mover este e outros mundos por descobrir, mas facilmente faremos novas escolhas se o amor nos tocar. 

Sabes que não estás fechada ao amor, até porque continuas a amar, mas acreditas cada vez menos que chegue e se consiga instalar!

O lugar de hoje seguramente que não será o de amanhã, tal como as pessoas que vão e que vêem, trazendo o que nem sempre nos preenche e levando o que por vezes tanto nos levou a conquistar. O que vivemos enquanto o fazemos connosco e o que nos fazem viver, com sabores doces e uns quantos tão amargos que nos selam o coração, seguramente que terá um propósito, mesmo que o acabemos a entender tarde de mais. 

Sabes que o que tens não é certo, se o que dás não produz eco e te enche de silêncios ensurdecedores.

Os amores que viveste terão que servir de bitola para os que chegarem. Os beijos que te inundaram corpo e alma de sensações únicas e reais, jamais poderão ser replicados pelos que forem apenas e tão somente beijos. Os sons que usares, achando que os terás de volta, apenas te deixarão com ainda mais silêncios, mas os olhares sem gente dentro mostrar-te-ão o que terás que ver para permaneceres viva.

Sabes que fizeste tudo quando já mais nada se te impõe fazer.

Quando a noite chega e o que preciso de ti me é permitido, tendo-te com tudo o que és, percebo o quanto sou afortunado. É na noite que os nossos corpos falam do que apenas nós entendemos e é pela noite dentro que nos tocamos para lá da alma que nos aloja, porque já nos pertencemos antes e por isso ainda permanecemos. Quando a noite chega e nos despimos do que nos cobre, descobrimo-nos do mundo e passamos a sentir, um com o outro, o que apenas um e outro parece ter. É sob as luzes da lua que os meus olhos se iluminam da luz que me passas e é passando as mãos pelo teu corpo esguio, suave e meu, que aceito o que tanto esperei, agradecendo pelo que representas enquanto és verdadeira, genuína e sem qualquer das capas que nos escondem de cada imperfeição. Quando a noite chega, repomos as energias do dia que nos consumiu, mas que guardámos para nos termos como sabemos, desejamos e precisamos. És feita duma seda que me envolve até me afundar no amor que me tens e do qual nunca arrisquei duvidar. Enches-me das certezas que nunca antes povoaram o meu universo e é por isso que te envolvo em todos os beijos que nunca recusas, retribuindo-os em sabor, calor e ainda mais amor. Quando a noite chega estamos verdadeiramente um com o outro e é apenas assim, um no outro, que nos saciamos de todo o mel que continuará a jorrar, dia fora, até que a noite nos chame e se alie, em cumplicidade, ao que continuamos a saber fazer. Se a noite chegar e não estiveres, nada do que tive, fui, trouxe ou produzi, produzirá o mesmo efeito que o olhar que pousarias nos meus, ávidos do prazer que te passo para que mo devolvas. Quando a noite chega sei que terei quem já me pertence e é assim que pretendo continuar, a ser para quem faz a vida valer a pena.

É tão bom ter para quem voltar, pelo menos acho que sim. É tão boa a ideia de fazer parte da vida de alguém, estando lá, sem esforço e sem pedidos que possam ser recusados, pelo menos sinto que sim. É tão bom, porque só pode ser, sentir que nos sentem da mesma forma ou com ainda mais desejo e intensidade, colocando-nos no primeiro lugar da fila, pelo menos é o que desejo um dia para mim.

O amor é uma escolha, isso é o que tenho aprendido com a idade, e não apenas um sentimento que nos irrompe células dentro, porque os sentimentos mudam com os dias e a cada dia, mas já ele, permanece, ou esvai-se, por escolha. A amizade que devotamos aos que percorrem quilómetros de vida connosco é uma escolha pensada e refletida, pelo menos eu faço-a, porque apenas mantenho os que me colocam os sorrisos nos lábios e enfeitam o olhar. 

É tão bom ser a pessoa certa de alguém, aquela que nos faz arrepiar pelos sons que a boca que gostamos de beijar deixam escapar, pelo menos é o que sinto quando e enquanto estou a ser beijada, desejando que o sintam também. É tão bom saber que só pode ser bom o que recebemos e por isso trabalhamos o que damos, pelo menos é o que me permito fazer, fazendo-o bem para que se multiplique. É tão bom, e isso já posso garantir, saber que no amanhã estará a pessoa que o fará valer a pena, mesmo que nos altos e baixos, nos momentos mais cinzentos, mas nos azuis também. É tão bom saber o que o bom representa, para que nunca nos contentemos com o mau.

Tudo tem o seu tempo e momento. Cada um dos lugares, sentimentos e acontecimentos, precisam de maturação, maturidade e aceitação. O que somos e o que passamos a ser, vivendo e experienciando o novo, o pouco razoável e até o inexplicável, de alguma forma explica o que ainda nos faltava ver para podermos crescer. Tudo tem o seu tempo se nos ocuparmos devidamente de cada momento.

Já atravessei desertos de sentimentos, mares revoltos de perguntas que acabei a ver respondidas, subindo aos lugares mais altos apenas para perceber quantos permanecem em baixo e até gostam. Já conheci quem não consegui deixar ficar, mas já fiquei com quem nunca deveria ter conhecido. Já me releguei para segundo plano, acreditando que um dia estaria no primeiro, mas apenas para entender que serei sempre eu a escolher o meu lugar. Já tive beijos doces que amargavam logo de seguida e já beijei sapos que se transformaram imediatamente em príncipes. Já fui amada como nunca acreditei possível e já o devolvi na mesma frequência e intensidade. Já fui a mulher certa de um homem, mas ainda continuo à espera, sem qualquer desespero, de ter por perto o homem que será indubitavelmente certo para mim. Já fui e voltei cheia de pressa, mas já comecei a saber como ir, para poder voltar no tempo que o meu tempo reconhece.

Tudo tem o seu tempo e momento e sabê-lo muda cada nova experiência, ampliando o que amealharemos para mais tarde usar. Tudo tem o seu tempo e momento e disso nunca mais irei duvidar.

Cuidado com o que pedes, porque é isso mesmo que vais receber!

Já aprendi o poder das palavras, mas é devagar e aos poucos que as vou sabendo colocar. Sei que me definem e que nunca deixo nenhuma por usar, até quando estou num silêncio que os outros entendem. Sei a importância de utilizar apenas as que falam de mim, de quem sou e de tudo o que fui fazendo até chegar "aqui". Sei que nenhuma célula do meu sistema é negativo, ou sequer procura pelo mal que de quando em vez teima em chegar, para mudar o registo ou afundar-me no que pode correr ao contrário. 

Umas breves trocas na semântica podem fazer um diferença assustadoramente positiva nos nossos dias e na forma como vemos os outros, ou o que nos fazem:

. Não quero voltar a sentir dor - Quero que o bem, o sabor doce e os sorrisos façam parte de mim mais vezes;

. Não gosto de pessoas negativas - Gosto de ter pessoas positivas por perto;

. Não tenho sorte nenhuma - Tudo o que me chega tem um propósito maior e só me cabe percebê-lo.

Poderia continuar com muitos mais exemplos, mas acredito que me expliquei, porque tal como as palavras, tudo o que somos, fazemos, desejamos e sonhamos, começa e termina connosco. Gosto desta nova sensação que me invade a cada dia, que me assegura de que sou a principal condutora do meu destino e que por isso deverei saber por onde e quando ir.

Cuidado com o que pedes, quando aparentemente estás a pedir para ti, de contrário acabarás a reclamar do que tu mesmo desejaste, fizeste repetidamente ou simplesmente deixaste por fazer.

Tudo o que achas que me tiraste, na realidade foi-te dado, os beijos, os olhares e até as palavras que não ressoavam com os atos. Tudo o que não sentiste, ou falhaste perceber, foi-te mostrado, oferecido e devidamente explicado. Tudo o que escolheste não ser enquanto era e estava inteira para ti, foi-te afinal permitido.

Não existem amores impostos, vendidos ou sequer ensinados. As emoções que carregamos carregam-nos em cada comportamento e é para eles que devemos olhar atentamente, para que saibamos do que sabe quem decide nada querer saber de nós. Não singram os sentimentos que nada sentem, ou que pouco passam quando estamos a querer ficar, por escolha, ou por incapacidade de partir. Não nos representam as palavras que nos deixam a falar sozinhos, porque as respostas não servirão a nenhum e seguramente que acabaremos a usar línguas diferentes. Não existem dores que se transformem em amores para sempre.

Tudo o que me impediste de passar, quando já estava pronta para te amar como só sei fazer, levou-me de volta ao lugar de partida e é lá que permaneço, porque não planeio dar-te o que consideras ser demasiado e porque menos do que tudo, para mim nunca será suficiente. Tudo o que não consegui ter de ti, ser-me-é oferecido por quem me sentir, entender e escolher.