Ela já foi tudo para mim. Ela já foi a minha miúda, mas mesmo nessa altura senti que era demasiado, muito desproporcional e assustador. Ela já quase me arrastou para a minha insanidade, mas soube como fugir!
Nem sempre os grandes amores ficam e por vezes são tão grandes que ameaçam engolir-nos. Nem sempre encontramos forma de encaixar quem nos quer demasiado, até quando achamos que conseguimos querer de igual forma. Ela já foi a minha primeira escolha. Queria estar onde estivesse e levá-la para onde mais ninguém a pudesse roubar de mim. Ela era a quem dava a mão e apertava com firmeza. Ela era quem tinha ao adormecer e a primeira pessoa que via ao acordar. Ela já foi a minha miúda, mas não a consegui manter, tive demasiado e não era exactamente isso que precisava.
Não me quero dividir. Não me apetece incluí-la sempre. Não tenho apenas um espaço, quero outros, quero ter-me outra vez, a mim e ao controlo da minha vida. Não sei se me arrependerei um dia, talvez nem chegue a acontecer, sou homem, não sonho com demasiado. Sou homem, não espero pela lua, o sol basta-me quando me aquece e a chuva nunca me perturba. Não quero querer demasiado, mesmo que já a tenha querido muito. Se lho disse, assim? Não, nunca seria capaz de o fazer, sou demasiado cobarde para explicar o que nunca teria forma de entender.
Ela era a minha miúda, mas terei outra e outra e mais . Sou eu no comando e assim permanecerei até que a vida me pare. Estou errado? Talvez, mas para já não me quero perder em quem já me perdeu. Não estou porque nunca estive. Não fui porque não sabia ser. Simples!
Perguntaste, então vou responder. Sou esta, assim como conseguiste ver. Gosto de mim, gosto de ti e de todos quantos me deixarem ser eu. Sou esta, tenho uma forma que pode até nem se encaixar na tua, mas quero continuar como me construí. Quero acordar cheia de energia, mesmo que exausta pela noite que não me deixou adormecer. Quero poder escolher os meus projectos e mesmo que em alguns esbarre e acabe totalmente consumida, sei que serei sempre EU em cada um. Quero poder rir de tudo, dançar como se o mundo fosse terminar e sossegar num sossego que todos estranham, até a gata. Quero decidir o que fazer, quem amar e porquê, até quando não perceber, NADA, das escolhas que faço. Quero continuar a curar-me do que não foi capaz de me matar, porque de amor não se morre. De amor ama-se mais e aprende-se a resistir a invernos rigorosos. De amor enchem-se os que armazenam para a vida. Do amor sei eu que amo TODA, sem qualquer reticência e a saber que apenas do TUDO se terá o MUITO que permanecerá. Sou esta. Caminho ao som da música logo pela manhã e percebo que me olham porque a energia que passo corre e percorre quem por mim passar. Sou esta e não vou mudar, não agora, até porque não teria forma de me melhorar e porque a ser mais ainda acabava a rebentar.
"Tu" serás o que se atreverá a entrar mesmo depois de constantes avisos, porque digo sempre, com toda a clareza, que não sou para todos os dedos. "Tu" serás quem eventualmente escolherei depois de nos termos escolhido, quando estiver pronta, quando me faltar pele, olhar, toque e entrega. "Tu" saberás que és quem desejo, porque nunca deixarei de o dizer. Uso as palavras, uma a uma, seguidas e frenéticas para que saibas que quem está contigo está mesmo. "Tu" terás direito ao que mais ninguém conseguiu, porque se estiver contigo foi porque uns quantos falharam.
É bom que estejas pronto para mim, porque eu prometo que a tua vida nunca mais será a mesma, que a virarei do avesso, e que não terás tempo para pensar em mais ninguém que não em mim. É bom que vás sabendo que eu sou esta, já que dizes querer arriscar. Vê lá se pelo menos jogas com as cartas todas, de contrário vou cobrar TUDO!
Seres únicos, éverdade, somos todos e sabemos, cada um à sua maneira, como fazer acontecer o que certamente fará falta a alguém. Ninguém se parece o bastante para ser realmente, parecido, é por isso que temos a nossa individualidade e devemos mantê-la, até quando colidir com quem não conseguir saber de nós. Estamos nesta vida, um a um, com lugares que devemos percorrer, almas às quais deveremos tocar e vozes que apenas nós seremos capazes de ouvir. Alguns de nós, de tão únicos, nunca seremos verdadeiramente vistos e ouvidos, mas quando o percebemos, sobretudo pelas vãs tentativas de nos enquadrarmos, de conseguirmos entender o que desejam os outros e o que fazem para o terem, aceitamos e seguimos, continuamos e paramos de esperar.
Seres únicos, tenho conhecido uns quantos, deixando que me enriqueçam acrescentando-me o que ainda não tinha, ou simplesmente recuando de forma cautelosa por serem de uma dimensão que a minha não reconhece. Os seres únicos que chegam e nos mudam de imediato, têm uma luz própria e são esses que vou querer por perto, dando-lhes tudo o que me oferecem e que pode até nem parecer muito, porque nunca peço, mas espero receber.
Deixa-te ser único, mantém o que te diferenciar, mas não sejas tanto que ninguém consiga perceber quem és realmente, porque aí não servirás nem a ti próprio!
O que somos passa inevitavelmente para quem
nos consegue sentir, para cada uma das pessoas que se tornam certas e mesmo
que não sejam muitas, existirá alguma, algures, que quererá o mesmo e conseguirá
sentir o sabor a que sabemos.
Vamo-nos
construindo por vezes sem muitas instruções ou regras, mas quase sempre a
servir um propósito, esperando pela vez em que a nossa vez chegará. Vamos,
passo a passo, mudando o que começámos e incluindo mais um pouco do que nos
levará um dia até ao lugar que nos pertence verdadeiramente.
Quando
o amor nos atinge, quando a outra metade de alguém parece encaixar-se de forma quase
perfeita, porque não deveremos em nenhum momento esperar apenas pela perfeição,
TUDO passa a fazer sentido e o que
acreditávamos ser nosso, passa mesmo a sê-lo.
Nunca ninguém nos prepara para o turbilhão
de dúvidas e de certezas que nos assolam quando olhamos, pela primeira vez,
para quem parece ter finalmente chegado para nós. Nunca nos dizem que amar traz imensos riscos, medos infundados e
uns quantos com todo o fundamento, porque falhar será sempre mais veloz e
imediato do que manter o que nem sempre se conquistou rapidamente.Nunca, em nenhum momento, nos falam
das intermináveis horas sem sono, mesmo que a cair de um cansaço que quase nos
mata. Nunca nos ensinam a amar
apenas pelo que somos e temos, não procurando desesperadamente pelo que nem
sequer sabemos poder atingir.
O que somos deveria ser bem mais importante do que tudo
o resto, porque foi sendo que alguém nos viu, olhou e sentiu tão dentro,
que tirar-nos passou a ser tarefa impossível. O quesomos fará sentido
sempre que o soubermos ser juntos com quem nos prove que até os sucessos
terão um novo sabor se forem partilhados. O
que somos, quando já nos sabemos ler e aceitar, é a escolha certa de quem
nos escolheu, mesmo que não soubesse porque o faria. O que somos, na maioria
das vezes, é apenas a tentativa de não nos falharmos, gorando qualquer
possibilidade de uma felicidade eterna. O
que somos, eu e tu, é TUDO o que
conseguirmos sonhar!
Já sabias, tal como sabes agora, que me fazias falta, mas querias que estivesse deste lado a sentir-me feliz e sem saudades tuas. A verdade é que sinto o desejo a crescer desmesuradamente, sendo refém da tua obstinação e do teu orgulho, mesmo quando dizes que não o tens. Foi sempre ele que te impediu, tal como ainda impede, de me procurares mesmo que te "grite" que podes, que deves e que fazemos sentido juntos.
Se a vida não servir para nos ensinar alguma coisa e para nos empurrar para os lugares certos, então do que adianta andarmos por aqui? Sei que quero mais, que desejo cada um dos meus desejos, que não abdico de mim e da minha felicidade e que se encontrei quem amo o certo e natural é ir lutando até que lutar deixe de ser possível. Achei sempre que estarias a preparar-te para me voltar a tocar, vindo até mim, mas as razões de cada um jamais serão da forma que o vemos e por vezes os medos sobrepõem-se ao amor e à vontade que temos de sermos mais do que apenas nós. Os medos entranham-se e ficamos sentados, quietos e vemos ir quem não fizemos por merecer.
São as dúvidas de cada um que ampliam até o que não existe. Somos nós, eu e tu a vermos o que não tem sequer formato e a deixarmos de olhar para o que só teria como ser claro. São as dúvidas que afastam grandes amores e nos deixam para um futuro sem cores, sem sons, apenas a termos pena de nós. Poderão até a ser as dúvidas a consumir-te, mas as minhas dissiparam-se e percebi que não existe mais nada que possa fazer, não nesta vida, não a ti. Se as tuas dúvidas te impedem de me quereres, então nunca me quiseste realmente...
O amor e a falta dele, transforma-nos para melhor e para pior. Somos o reflexo de tudo o que construímos e do muito que nos faltar, para entendermos que apenas teremos o que formos capazes de doar.