O que seria de mim...
Sue Amado
fevereiro 18, 2019
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Como é que me voltaria a pôr de pé se a tua falta física fosse para sempre, se nunca mais te pudesse tocar e se soubesse que saber de ti jamais seria possível? Arrepiei-me apenas com a ideia, porque sinto que passamos metade do nosso tempo a achar que tudo ficará no lugar certo, e que teremos forma de resgatar o que perdemos, mas se for para sempre, se nunca mais tivermos como nos olhar, e se acabarmos onde começámos, à procura um do outro, como é que poderia resistir?
Tanto que já tivemos, mas tão pouco ainda que perder-te irremediavelmente, seria perder o pedaço maior de mim, e isso sim seria difícil de suportar. Ainda consigo saber ao que cheiras, como te moves e de que forma me abraçavas. Agora ainda poderia reservar-me a um momento de loucura e ligar-te a implorar que me escutasses, que aceitasses aceitar-me. Mas se te fosses para sempre, se o teu corpo se consumisse para permitir a saída de uma alma que não poderia continuar aqui, sei que enlouqueceria, sei-o porque me estou a contorcer de uma dor real apenas de o imaginar. Sei-o porque não poder voltar a ti de cada vez que me apetecesse respirar-te, tirar-me-ia todo o ar, e acabaria a rasgar-me por dentro, sem conserto e sem forma de ser restaurada.
Aceito tudo, até a fazer um pacto com aquele a quem não me atrevo a escrever o nome. Aceito cair uma e outra vez. Aceito magoar-me e sentir o sangue escorrer dos lábios que mordo. TUDO para que continues aqui mesmo não podendo ter-te, quero sentir e saber que alguém te poderá tocar, que continuarás a sorrir para a vida, que levarás por diante os teus sonhos, quero e preciso que não me deixes totalmente, mesmo que o já tenhas feito, que já o tenhas decidido.
Existem pessoas que nos chegam para serem sentidas intensamente, mas que são levadas, sem aviso, impedindo-nos de voltar a caminhar da mesma forma. Esse sim é o verdadeiro significado da perda, tudo o resto serão apenas pequenas lombas na estrada. É por isso que não quero saber o que sobraria de mim, ou de que forma me voltaria a arrancar palavras se te fosses para sempre. Certamente que nada de mim poderia ser reutilizado. Acabaria esvaziada de dentro para fora, limpa de cada célula. Ficaria nua, ficaria apenas eu e deixaria de importar!