4.3.21

Do que tenho medo afinal?

março 04, 2021 0 Comments



Estamos a escrever a declaração que certamente cada um desejará assinar por baixo, mas por agora e enquanto me analiso até à exaustão, sinto medo até de pensar alto. Sempre gostei de conduzir o meu destino, e mesmo que entenda que não controlo tudo, tenho encontrado forma de controlar a minha vontade de ter mais alguém para além de mim mesma.

Quem disse que amar era fácil? Quem se atreveu a achar que os recomeços são necessários e inevitáveis? Quem nos consegue certificar de que a decisão de estar sozinha não é a mais acertada?

Tenho uma vontade legítima de me sentir tocada para além do que já fazes, porque só me tocando assim, bem dentro do que já sou e tenho, poderias alguma vez semear-me as dúvidas que quase me matam. Sei que preciso de alguém como tu, forte, determinado e capaz de esperar que a minha espera termine, mas também sinto que uma vez iniciado o primeiro momento, aquele que se seguirá a todos quantos já fomos capazes de imaginar, nada mais nos fará parar.

Do que tenho medo então, se tudo parece estar na pessoa que a minha reconheceu? Isso mesmo, TUDO. A sensação de já não estar na frente do leme; A necessidade que surgiu, do nada, de ser olhada como mulher; Os momentos partilhados todo o dia e a todas as horas do dia; As respostas que preciso de dar porque os silêncios já não me pertencem; O teu respirar que se mistura no meu e nos acende a chama que alimentamos, tu com muita determinação e eu a recear que me queime no fogo que provoco...

Há tanto que te digo para te demover de esperares, mas a verdade é que se te perdesse agora, perderia a parte de mim que me recorda de que estou viva. Há muito em jogo, mas não estamos a jogar e por isso não queremos apostar a felicidade, porque não a conseguir seria deixar para depois o que já não voltaria a acontecer, a mim não certamente.

Estamos a escrever a declaração que nos reflete, mas ainda precisamos de saber se a assinaremos!

3.3.21

Uma coisa é saber, outra é provar que se sabe!

março 03, 2021 0 Comments



Uma coisa é escrevermos sobre nós, quando temos a pretensão de nos considerarmos escritores e outra, definitivamente oposta, é escrevermos sobre dores e traumas alheios, porque temos que ser capazes de sentir, bem dentro do que nos representa, o que representaria ser verdadeiramente magoado, usado, ou tão simplesmente ignorado.

Para alguns poderá parecer que apenas nos sentamos e debitamos umas quantas palavras, mas tudo o que se escreve vai muito para além do que se possa ler. É solitário o bastante para que nunca se saiba se chegará a alguém, mas tão libertador que fazê-lo fará correr tudo o resto. Quem sabe o poder que os sons carregam, nunca se subtrai a aprendizagem que envolve saber mais um pouco, mesmo que sobre outros, ouvindo e lendo mais ainda, e para que nos serviam de bitola para o que dizemos querer ser, ou para o que NUNCA seríamos.

Uma coisa é escrevermos sobre o amor, e outra diametralmente oposta, é fazê-lo sobre o desamor, a falta dele, ou o que nunca existiu na proporção do que sempre se deu. Quem não ama, não foi amado, ou simplesmente nunca se cruzou com quem lhe moveria os dias, dificilmente quer ler, ou ouvir falar de amores que funcionam tão bem que até a dor chega ao contrário (puro malabarismo literário). Mas existe sempre a possibilidade de usarem as palavras cheias de amores que resultam, para que desatem a querer igual, ou a não perder a esperança de que virá. Uma coisa é escrevermos sobre o que é bom e nos faz bem a todos, num consenso natural, outra é tentarmos que se veja para além do agora, ou que preste mais atenção ao que foi antes e não funcionou. Uma coisa é acharmos que o amor não nos faz falta e outra é reavivarmos o seu poder, deixando-nos ainda mais poderosos, porque a felicidade injeta-nos os poderes que mais nada consegue.

2.3.21

Como foi o teu primeiro beijo?

março 02, 2021 0 Comments



Vou-me lembrar sempre da forma como me beijaste pela primeira vez, quando ainda não sabíamos o poder que os beijos carregam. Estávamos no início dum amor tão inocente, mas a saber-nos a todas as certezas que certamente não voltaremos a ter. Vou-me lembrar sempre do apoio de todos os amigos que já desesperavam pela demora, mas a minha timidez e o teu medo de me afastares, afastou-nos até ao dia em que finalmente nos apaixonámos e trocámos o beijo que permanecerá para sempre, o primeiro, o certo e o único com o qual mais nenhum poderá competir.

Tanto que gostava de poder voltar ao tempo em que ter tempo era natural e o usávamos para abraçarmos o mundo que acabaríamos por descobrir, parte dele acompanhados pela nossa alegada metade, mas a outra apenas desejando que a espera acabe para podermos prosseguir. Os dias eram começados e terminados em função dos sonhos que não temíamos sonhar, não até que os desatassem a aprisionar, um após o outro, alegando que os pés teriam que estar sempre na terra, como se voar não fosse já um sonho possível.

Vou-me lembrar de quando olhar-te bastava e o fazíamos por tanto tempo que até nos esquecíamos de respirar. Vou-me lembrar de todas as promessas que nunca chegámos a verbalizar, mas que confirmávamos quando apertávamos a mão que a nossa segurava achando que seria para sempre. Vou-me lembrar pouco do que dissemos, mas jamais tirarei de mim o que sentíamos enquanto nos perguntávamos se todos sentiriam assim e se amar era o estado do eternamente possível e do verdadeiramente inquebrável. Vou-me lembrar de acreditar que o nosso amor nunca seria como o dos adultos, até porque eles nem pareciam alguma vez ter amado, até quando tudo era inevitavelmente possível. Vou-me lembrar sempre de ti como o amor que deu início a todos os outros, mas seguramente que nenhum alguma vez carregou a inocência e a ausência do medo que agora me está tão colado como uma segunda pele. Vou-me lembrar sempre do início de tudo.

1.3.21

Apareceste, e agora?

março 01, 2021 0 Comments



Apareceste e tudo o que dizia não querer, ou ser capaz de fazer, passou a ser colocado noutra perspetiva.

Quando deixamos de fazer planos que incluam os que poderão chegar numa segunda viagem, focamo-nos apenas no nosso destino e em tudo o que desejamos sozinhos. Quando o sol passa a ser nosso, da forma como o vemos e sentimos sem que sintamos mais nada por outro alguém, a alma carrega-se duma paz que nos entra dentro e depois, depois torna-se MESMO muito difícil partilhá-lo.

Apareceste e o que já era comigo, sem qualquer esforço e esforçando-me apenas em me manter no meu trilho, reavivou alguns medos antigos e retirou do armário todas as armas que já usei antes para me defender.

Quando o nosso corpo já não se recorda de ser tocado. Quando os nossos lábios anseiam por mais do que palavras e se imaginam, outra vez, a receber e a dar os beijos que os mantinham vivos. Quando acordar já não volta a ser igual e adormecer é mais doloroso pela companhia que se antecipa, mas ainda não se tem. Quando as inevitáveis avaliações e comparações se instalam, sabemos que a viagem recomeçou.

Apareceste sem que o tivesse pedido, mas de repente só peço que sejas um pouco mais do que afinal achei já não desejar. 

27.2.21

Quem é esta Mulher?

fevereiro 27, 2021 0 Comments


Hoje vi a entrevista do Manuel Luís Goucha à Catarina Furtado, na qual lhe perguntou se ela considerava já ser a Mulher que queria ser e não pude deixar de querer refletir sobre a Mulher que me tornei!

Se cada um de nós se cuidasse o bastante para poder cuidar do outro de igual forma, o mundo seria um lugar maravilhoso, tal como o seríamos também nós. Se vivêssemos numa constante necessidade de crescimento interior, a paz chegaria de forma natural e a iluminar o caminho que ainda não está visível.  Se não nos recusássemos o que é nosso por direito, dando-nos o valor que temos que fazer por merecer, porque apenas assim seremos valorizados, a nossa pegada na vida que envolve muitas outras almas, seria inevitavelmente grande e visível. Se estivéssemos mais atentos ao que aparentemente é pequeno, tudo o resto seria verdadeiramente visto.

A Mulher que me tornei vive num inevitável conflito entre o que sente e o que pensa, mas sempre desejosa de encontrar o equilíbrio que me fará servir mais e melhor os que de mim dependem e os que vão surgindo, aqui e ali, por "coincidências do universo". A Mulher que a cada dia respeito mais, porque faço por não me defraudar, dizendo exatamente o que sinto e sentindo tudo o que digo para que faça eventualmente eco nos outros, só que seja mais 1. A Mulher que pretendo que os meus filhos vejam, já reflete a clareza, o bom-senso e o amor que cresce e cresce para lhes entrar na corrente sanguínea e ser replicado, provando-lhes que ser bom e genuíno é possível e uma escolha. A Mulher que começa e termina os dias comigo, é mais segura, mesmo que ainda carregue inseguranças tolas, é mais compreensível, mesmo que escolha não compreender os que disparam sem apelo nem agrado atingindo os próprios pés; é mais sábia, mas nunca recusa aprender com quem ainda não sabe o suficiente sobre emoções e espiritualidade; é mais tolerante perante o que está errado no mundo, e é muito, mas não se acomoda ao ponto de desistir de participar na sua melhoria; aceita o que não pode mudar e muda o que não pode aceitar, mesmo que lhe provoque dores lancinantes e obrigue e mudanças assustadoras. A Mulher que me tornei é inequivocamente melhor do que antes, mas seguramente que ainda tem muita margem para melhoria.


26.2.21

E se o amanhã chegasse hoje?

fevereiro 26, 2021 0 Comments



E se pudesse sair agora de mim e ver-me do lado de lá, o que será que perceberia? E se simplesmente pudesse deixar para lá o que me interrompe o percurso e apenas seguir, sem medos, sendo mais destemida e arrojada? E se fosse capaz de confiar em quem até confia que não falharei e aproveitar tudo o que já armazenei? E se os "ses" da minha vida desaparecessem sem qualquer esforço e tudo fosse mais claro e possível?

Somos, sem qualquer dúvida, os nossos maiores bloqueadores de prazer, sucumbindo ao medo ao invés do puro prazer, aquele que nos traz quem teria que chegar. Somos muitas histórias por concluir e outras tantas que não arriscamos começar. Somos a pessoa certa de alguém e a errada também, mas somos muito mais do que reconhecemos a cada dia, esperando que mais nada precise de ser feito ou descoberto. Somos capas mais ou menos duras e o problema maior passa por mantermos vestida até a que nos incomoda. Somos metades mais incompletas quando desistimos.

E se fosse capaz de me aceitar com tudo o que tenho dentro e que merece ser visto e sentido? E se voltasse a acreditar que amar é tão natural quanto é o respirar que já nem é tão compassado? E se te desse autorização para me dares o que mereço? E se fosses mesmo tu a recordar-me do que fiz por esquecer?

Sou fruto do que construí, mas quem sabe não me consigo ainda surpreender, permitindo que alguém me ame sem quês nem porquês...

25.2.21

Nunca mais nos diremos o que temos dentro!

fevereiro 25, 2021 0 Comments


Nunca nos chegámos a despedir, fomos apenas usando uns quantos "até logo", até se transformarem no NADA que sobrou. Gostava de não ter usado palavras tão amargas, mas a verdade é que te amei TANTO, que saber que o impossível se instalara me rasgou por dentro. Queria, mais do que tudo agora, que nos tivéssemos confortado num adeus que nos libertasse, porque na verdade continuamos por aqui, presos ao que imaginámos que seria e completamente incapazes de saber ao que teria sabido o nosso para sempre. 

Deixaste-me sem vontade de sequer olhar para um outro olhar. Quebraste-me tanto que já não me permito os braços de quem me abraçariam e te arrancaria de mim. Impediste-me de voltar a acreditar no amor e não era esse o direito que te assistia. 

Nunca mais nos voltámos a beijar como no início e foi tanta a vontade de nos termos, quando apenas tínhamos isso mesmo, vontade, que bem poderíamos ter dado mais um. Nunca nos perdoámos pela desistência a dois e por tudo o que nos impedimos de ser enquanto o éramos. Nunca mais acordei a saber que estavas do lado certo da minha vida e já não voltarei a adormecer com quem era seguramente a pessoa que me mostraria o melhor de mim.

Deixei-te sem vontade de lutares por mim, porque não soube como te fazer saber que todo o amor que te tinha era mesmo real e poderia ficar entre nós, sendo a realidade pela qual esperámos tantos anos. Quebrei-te ao fingir-me de forte e mesmo sabendo que o era, deveria ter deixado passar a fragilidade que me fez agarrar-te quando acreditei que nunca mais voltaria a amar.

Nunca mais nos ouvimos, mas ainda recordo o timbre da tua voz e como ela me fazia estremecer de prazer e desejo. Nunca mais voltámos a considerar voltar atrás e foi isso que ditou este presente, que é tão apenas um futuro sem ti e com o tanto que ainda te amo, e tu sem mim sabendo que nunca mais amarás alguém assim. Nunca mais é tão definitivo quanto o que fechámos em nós apenas para nunca mais nos abrirmos ao mundo. Com o nunca ficámos ambos a perder...